Quais são os principais desafios que se colocam à investigação em Enfermagem? Quais são os contributos dessa investigação na prática clínica e na mudança da sociedade? Qual é o lugar dos enfermeiros nas unidades de investigação?
Foi para responder a estas e a outras perguntas que o NursID, grupo de investigação integrado no Cintesis, organizou o Congresso Internacional de Investigação em Enfermagem, nos dias 6 e 7 de julho, na ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto, tendo contado com a participação de cerca de três dezenas de participantes.
Entre ele estavam o coordenador do Cintesis, Altamiro da Costa Pereira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, o Reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, o presidente da ESEP, Paulo Parente, a coordenadora do Programa Doutoral em Ciências da Enfermagem do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS), Corália Vicente, e representantes da Ordem dos Enfermeiros.
De acordo com o líder do grupo de investigação, Carlos Sequeira, “faz sentido existir um grupo específico centrado na Enfermagem, sem qualquer amarra disciplinar”, sendo que “todos os dias surgem pedidos de pessoas que querem integrar o NursID”.
Quanto à integração no Cintesis, constitui uma espécie de recompensa. “Estamos agora a jogar na primeira liga, estamos no seio de investigadores com trajetos consolidados. O grande desafio é o tempo. Precisamos de tempo para os projetos de investigação, para as atividades letivas e para a prática clínica”, afirmou, na cerimónia de abertura.
Embora concorde que é importante existir um grupo de investigação em enfermagem, o coordenador do Cintesis lançou dois desafios aos enfermeiros: “O primeiro grande desafio é o da multidisciplinaridade. Será ainda mais importante que esse grupo possa trabalhar de forma multidisciplinar para melhorar as decisões em saúde. A integração de diferentes profissionais pode dar uma maior riqueza aos projetos e aos resultados da investigação”.
O segundo desafio foi também um pedido de ajuda. “Não é o Cintesis apenas que vos pode ajudar; vocês também podem ajudar o Cintesis. A Enfermagem é uma área que tem estado bastante negligenciada do ponto de vista da investigação e do investimento público. Espero que o Cintesis e a Escola de Enfermagem possam ajudar a mudar o paradigma da investigação e do ensino no nosso país”, apelou.
Altamiro da Costa Pereira espera que a Enfermagem possa beneficiar do seu trabalho enquanto coordenador da Agenda de Saúde, Investigação Clínica e de Translação, que reuniu no Encontro de Ciência 2007, promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Agenda prevê a existência de cinco áreas prioritárias de investigação para o país até 2030. “O facto de esta agenda existir já é extraordinário. É a primeira vez que serão inscritas numa Agenda deste tipo temas como a avaliação de tecnologias de saúde ou o envelhecimento ativo. Isso pode, a médio prazo, fazer uma enorme diferença na forma como os recursos são alocados e nos resultados da investigação, para que estejam mais próximos da prestação de cuidados e façam a diferença no Sistema Nacional de Saúde”, declarou.
Pela sua parte, o presidente da Escola de Enfermagem do Porto, Paulo Parente, viu a presença do coordenador do CINTESIS como “um ato simbólico relevante”, enaltecendo “a coragem de ter acolhido os enfermeiros no seu seio, sem receios, num momento em que quase ninguém teria a coragem de o fazer. Os enfermeiros e esta Escola estão-lhe reconhecidos por isso e estou certo que o Cintesis reconhece a enfermagem como um dos polos em desenvolvimento na investigação na área da saúde”.
O próprio secretário de Estado Adjunto e da Saúde, que também se declarou investigador do Cintesis, incentivou os enfermeiros a apostarem na investigação. “Continuem este caminho de empenho e de afirmação e estejam certos de que poderão contar com o nosso apoio”, assegurou. Fernando Araújo garantiu que o governo quer “um SNS mais próximo, onde os enfermeiros são essenciais e as equipas multidisciplinares terão capacidade para prestar mais e melhores cuidados de saúde”.
Já a coordenadora do Programa Doutoral em Ciências da Enfermagem do ICBAS registou um “progresso assinalável” no ensino nesta área, sublinhando que, para 15 vagas, houve um total de 32 candidatos, todos eles com mestrado. Corália Vicente, sente-se, de resto, “parte desta aventura”, uma vez que era presidente do Conselho Diretivo à data da criação do mestrado em Enfermagem naquela instituição de ensino.
“Este congresso é mais um passo na direção correta. O Cintesis também está de parabéns por ter aceite com toda a facilidade esta área de investigação. A Enfermagem tem de marcar a sua posição. Espero que a Universidade do Porto e a Reitoria percebam que tem alguma coisa a ganhar colaborando com Enfermagem”, desejou.
O Congresso teve ainda outros momentos altos, como a conferência de António Vaz Carneiro, investigador do Cintesis, a assinatura de um protocolo entre o Cintesis, a ESEP e a Ordem dos Enfermeiros e o debate sobre os Centros Académicos/Clínicos de Investigação, no qual o Reitor da Universidade do Porto, o coordenador do Cintesis e os representantes do Centro Académico de Medicina de Lisboa e do Centro Universitário de Medicina FMUP – CHSJ debateram os obstáculos à sua concretização, como a falta de um modelo de financiamento e de personalidade jurídica.
Neste debate, Altamiro da Costa Pereira confessou-se orgulhoso por liderar “a unidade mais pluridisciplinar e diversificada na área da investigação em saúde no país” e desafiou o Estado a usar indicadores ligados ao custo-eficiência do investimento realizado na investigação em saúde.
Por fim, Miguel Castanho, da FCT, reiterou a intenção de apoiar a investigação translacional e clínica, tendo anunciado a criação da nova Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica, equivalente à Agência Nacional da Inovação, a ser financiada pelos Ministérios da Ciência e da Saúde.
Após o Congresso Internacional de Investigação em Enfermagem, deverá agora ser lançado um ebook com os resumos dos trabalhos apresentados e deverão ser publicados artigos científicos numa revista indexada.