Um novo estudo assinado por cientistas da Universidade do Porto e do IPP vem fazer luz sobre a neuroanatomia da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA).
De acordo com este estudo, as alterações comportamentais observadas nesta perturbação podem ser explicadas por um desequilíbrio no funcionamento entre as várias redes neuronais, o que justifica a extensão e variabilidade sintomatológica, apontando para a necessidade de uma abordagem multidisciplinar no diagnóstico e na intervenção terapêutica, com implicações na prática clínica.
Os investigadores, entre os quais Pedro Pereira Rodrigues, investigador do CINTESIS, Bruno Vieira de Melo e Maria João Trigueiro, da ESS-IPP, analisaram perto de 100 estudos realizados a nível internacional, com o objetivo de identificar as diferenças neuroanatómicas estruturais e funcionais registadas no cérebro de crianças e adultos com PHDA, através da utilização de diferentes técnicas de imagem.
Publicado no Developmental Neuropsychology com o título “Systematic overview of neuroanatomical differences in PHDA: Definitive evidence, Developmental Neuropsychology”, este estudo indica a existência de “um envolvimento encefálico globalizado ” na PHDA, o que pode suportar os modelos etiológicos que concetualizam uma “implicação sistémica do sistema nervoso”, e que se traduzem nas múltiplas implicações observadas ao nível das competências cognitivas, de regulação emocional, motoras, sensório-percetivas e sociais.
Uma das principais conclusões do estudo refere que as implicações da PHDA vão, claramente, além da rede frontoparietal e do sistema dopaminérgico, existindo diferenças visíveis noutras regiões do cérebro, nomeadamente em termos de volume, área, ativação e composição química.
A nível estrutural, o estudo identifica uma redução no volume total do cérebro e, mais especificamente, no hemisfério direito, lobos frontal e parietal, núcleos da base, globo pálido, corpo caloso e cerebelo. A nível funcional, registam-se sinais de hipoativação do lobo frontal, níveis aumentados de N-acetilaspartato (NAA) um neurometabolito sintetizado pelos neurónios, no córtex prefrontal médio e outros sinais, consistentes com padrões de ativação em regiões do cérebro como o córtex cingulado, a ínsula, o núcleo basal e os lobos parietal, temporal e occipital.
Além das implicações na clínica, o artigo enfatiza a “necessidade urgente de ensaios homogéneos, com metodologia padronizada e replicável que permitam a aplicação das múltiplas técnicas de imagem nas mesmas condições”.
A PHDA é uma das perturbações do neurodesenvolvimento mais comuns. Apesar de ser muito estudada, ainda suscita inúmeras controvérsias. Calcula-se que afete entre 5 a 8% das crianças em idade escolar, atingindo mais o género masculino. Cerca de 60% das pessoas diagnosticadas na infância/adolescência mantêm sintomas na idade adulta.