Inês Dutra é investigadora principal do grupo AI4Health – Inteligência Artificial na Saúde, pertencente à Linha Temática Ciência de Dados, de Decisão & Tecnologias de Informação, do CINTESIS.

Nascida e criada no Rio de Janeiro, esteve indecisa entre seguir Saúde ou Ciências Exatas, mas os Computadores falaram mais alto. Optou por Matemática (modalidade Informática), tendo concluído o mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1988. Em 1995, doutorou-se em Ciências da Computação pela Universidade de Bristol, onde esteve durante quatro anos, com uma bolsa do governo brasileiro.

Entre 2001 e 2005, foi também investigadora do Departamento de Bioestatística e Informática Médica da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos da América, onde começou a trabalhar na área médica, mais concretamente em cancro da mama, onde diz que “ainda há muito coisa a fazer”.

Em 2007, decidiu mudar-se para Portugal. O marido, que é português, e a insegurança crescente sentida na pele, conduziu-a à Universidade do Porto, onde já havia estado como investigadora em 1996. É atualmente professora auxiliar no Departamento de Ciências de Computadores da Faculdade de Ciências.

“O meu desejo é ser uma boa professora. Gosto muito de ensinar, de passar o meu conhecimento para outras pessoas. Sou incapaz de entrar numa sala de aula para ensinar uma coisa que eu não saiba muito bem. A investigação é um meio de aprendizagem e de disseminação de resultados, mas também me permite ensinar coisas novas aos meus alunos, ilustrando a teoria com exemplos práticos”, diz.

Passou pelo Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores, depois pelo INESC TEC e agora está no CINTESIS. “Tenho a expectativa de ter projetos conjuntos com profissionais que trabalham na área da saúde e convencê-los a colaborar. Sem a contribuição deles, não adianta”, confessa.

Como investigadora, trabalha na fronteira entre Ciências de Computadores e aplicações na área médica, utilizando os métodos de programação lógica. Segundo a própria, “a quantidade de informação que hoje temos para armazenar é muito grande, dispersa e heterogénea. Por isso, para trabalhar nesta área, temos de adequar os algoritmos, os métodos, tornando-os mais eficientes”.

Uma das aplicações que desenvolveu foi o MammoClass uma ferramenta online que calcula a probabilidade de um tumor ser maligno ou não, a partir de um relatório que pode ser escrito ou ditado pelo utilizador. “Em cerca de 20% dos casos, as biópsias são inconclusivas. Quando isso acontece, os doentes fazem mastectomia parcial ou total. As nossas experiências com dados de biópsias indicam que seria possível minimizar o número de pacientes que fazem mastectomia parcial ou total desnecessariamente”, afirma.

O modelo está em constante atualização. De cada vez que uma pessoa entra na plataforma e deixa os seus dados, está não só a responder a uma questão pessoal, mas também a contribuir para aumentar a base de dados e a aprimorar o modelo. O objetivo é que possa ser usado pelo público geral e por profissionais de saúde. A adesão ainda está, no entanto, aquém das expectativas, algo que a investigadora não estranha.

“Nesta área, a diretiva vem de cima para baixo. Se as pessoas não forem obrigadas, não mudam. Há uma certa desconfiança, uma resistência à mudança, por causa da curva de aprendizagem. Acho que esse é o maior problema e que vai mudar com a geração mais nova. Penso que é uma questão de tempo até que as tecnologias venham a ser utilizadas, não para substituir, mas ajudar”, conclui.

Ambição a um ano?

Neste momento, estou associada a vários projetos na área da saúde com colegas do CINTESIS. Quero semear, dar a conhecer o que fazemos em Inteligência Artificial para que as pessoas saibam como isso pode ajudá-las e fazer projetos conjuntos em sistemas de apoio à decisão que contribuam para melhorar os cuidados de saúde.

Ambição a 10 anos?

Eu tenho muitas ideias, mas gosto de dar um passinho de cada vez. Se eu tiver uma equipa de trabalho com dinamismo, a consequência será a proliferação de projetos. Espero integrar a tecnologia nos processos de saúde, do ponto de vista do suporte e apoio à decisão, para conseguir apoiar os profissionais de saúde e melhorar os cuidados prestados.

Vida para além da investigação?

Dificilmente tenho tempos livres. O meu tempo é muito dedicado ao trabalho porque eu gosto. Mas não descuido a família. A minha filha já estuda fora. Dedico muito empo ao meu filho, que tem 15 anos. Gosto de andar de bicicleta, de fazer piqueniques, de praia e de montanha. Podem encontrar-me no zoológico ou no parque da cidade. Também gosto muito de ler. Neste momento estou a ler o “Sapiens – História Breve da Humanidade”, de Yuval Noah Harari, e estou a achar muito interessante.