Os cuidados prestados por profissionais de saúde, o apoio da família e dos amigos e o conhecimento ou acesso a informação relevante são considerados pelos doentes oncológicos como fatores-chave na autogestão das complicações associadas ao tratamento de quimioterapia.
A conclusão é de uma revisão sistemática de estudos realizada por Bruno Magalhães, investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, enfermeiro do Instituto Português de Oncologia do Porto e docente da Escola Superior de Saúde de Santa Maria, no Porto.
Intitulado “Cancer patient’s experiences on self-management of chemotherapy treatment-related symptoms: A systematic review and thematic synthesis”, o artigo foi agora publicado no European Journal of Oncology Nursing.
O objetivo era fazer uma síntese dos fatores que podem dificultar, facilitar ou apoiar a autogestão dos sintomas da quimioterapia, de acordo com estudos publicados mundialmente.
Embora os sintomas sejam diversos e influenciados pelo tipo de tumor, o estado da doença ou o tratamento em concreto, os sintomas mais frequentemente referidos incluem fadiga, náusea, vómitos, queda de cabelo (alopécia), alterações do paladar, dor e neuropatia periférica.
“Quando os sintomas são mal geridos, podem levar a interrupções ou atrasos nos tratamentos e à redução da adesão, com impacto negativo na sobrevivência dos próprios doentes”, realça Bruno Magalhães.
Entre os “facilitadores” da autogestão dos sintomas associados à quimioterapia contam-se características pessoais dos doentes (como querer controlar e superar a doença e seus efeitos), a esperança e a integração em grupos de ajuda.
Já a sensação de falta de controlo dos sintomas e os efeitos físicos e emocionais dos mesmos funcionam como obstáculos a uma autogestão eficaz dos sintomas associados ao tratamento de quimioterapia.
Falta de informação associa-se a pior adesão aos tratamentos
O cuidado de profissionais como médicos e enfermeiros e o apoio de familiares, amigos e vizinhos são determinantes, mas não dispensam o conhecimento e o acesso à informação por parte dos doentes.
Seja fornecida por profissionais ou obtida através de outros doentes ou de materiais impressos ou online, a informação é essencial para os doentes oncológicos, ajudando-os a lidar melhor com os sintomas da quimioterapia.
De modo inverso, a falta de conhecimento e a falta de informação associam-se a dificuldades na identificação das complicações, a problemas relacionados com uma pior adesão à terapêutica ou a uma gestão ineficaz da terapêutica prescrita em SOS.
De acordo com o investigador do CINTESIS, “a natureza dos sintomas relacionados com a quimioterapia exige cuidados de enfermagem desenhados e adaptados às experiências dos doentes. Estes cuidados devem incluir a partilha de informação e conhecimento, bem como a promoção de grupos de apoio e do envolvimento da família ou pessoa significativa”.
No entanto, diz, “a informação deve ser dada de acordo com a capacidade do doente de a entender e quando considerada necessária. Os enfermeiros devem explicar quais os sintomas que podem ocorrer para que os doentes os entendam e os aceitem”.
Este estudo contou também com a participação de outros investigadores do CINTESIS, nomeadamente de Carla Fernandes, Lígia Lima e Célia Santos (coordenadora), bem como do investigador Juan Martinez-Galiano, da Universidade de Jaén, em Espanha.
Bruno Magalhães é também primeiro autor de outro estudo, este publicado no Cancer Nursing, segundo o qual as aplicações móveis podem ajudar na monitorização de complicações associadas ao tratamento de quimioterapia, e tem participado no desenvolvimento do projeto iGestSaúde – módulo quimioterapia, que pretende muito brevemente disponibilizar uma aplicação para telemóvel, para utilização pelos doentes durante a quimioterapia.