Cerca de 130 profissionais de saúde de todo o país, sobretudo psicólogos, enfermeiros e médicos, bem como estudantes, juntaram-se no I Congresso Nacional de Investigação Científica em Oncologia Psicossocial (ICOP), que decorreu entre os dias 14 e 15 de março, na Universidade de Aveiro, com o apoio do Cintesis – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

O objetivo desta primeira edição foi debater as necessidades dos doentes oncológicos, especialmente no que respeita a intervenções destinadas a tratar o sofrimento psicológico.

Sara Monteiro, Ana Bártolo (na foto) e Isabel Santos são as investigadoras do CINTESIS/Universidade de Aveiro que integraram a Comissão Organizadora deste Congresso, cujo programa incluiu conferências, simpósios e comunicações livres, orais e escritas, sobre temas como o cancro da mama, o mieloma múltiplo e a Oncologia Pediátrica.

“Resolvemos fazer este Congresso porque temos desenvolvido investigação em Psico-Oncologia, em diferentes fases da doença oncológica, particularmente em sobreviventes de cancro, e percebemos que é uma necessidade abordar a Oncologia Psicossocial em equipas multidisciplinares, sem perder de vista a abordagem holística a estes doentes”, explicou Ana Bártolo, à margem desta primeira edição.

Já Sara Monteiro, que investiga há vários anos nesta área, sublinhou a importância de investigar para perceber as especificidades de cada doença oncológica, como as idades, as perceções e as necessidades sentidas por doentes, familiares, cuidadores e profissionais, de modo a adequar a resposta.

“Cada patologia oncológica obriga a respostas diversas do ponto de vista da prestação de cuidados. Muitas vezes os profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, não estão tão sensíveis para algumas questões que podem surgir ao longo da trajetória da doença, como questões de natureza psicológica ou psicossocial. É preciso chamar a atenção para essas questões, realçar a sua importância, formar e informar os profissionais para que esses temas possam ser abordados em sede de consulta”, indicou.

A investigadora do CINTESIS e Professora Auxiliar Convidada da Universidade de Aveiro sublinhou que, para além de promoverem a saúde mental, os cuidados prestados em sede de Oncologia Psicossocial têm resultados cientificamente comprovados em termos clínicos.

“Em princípio, uma pessoa que esteja bem ajustada psicologicamente mais facilmente irá aderir ao processo terapêutico e irá passar pela doença de forma menos dolorosa. Felizmente, muitas pessoas conseguem adaptar-se bem a esta doença ameaçadora, mas é importante que tratemos de garantir a saúde mental de todos os doentes oncológicos”, referiu a responsável.

Esperando que a investigação possa influenciar a ação, o seu desejo é que este tipo de cuidados seja estendido a todos os hospitais e a todo o país. “A preocupação é cada vez maior, mas ainda insuficiente. O doente tem de ser olhado com um todo e não apenas como alguém que tem um cancro que é preciso tratar”, apelou.

De acordo com Luzia Travado, investigadora da Fundação Champalimaud e “past president” da Sociedade Internacional de Psico-Oncologia (IPOS), que representa 7 mil profissionais em 67 países, “o cancro é atualmente a segunda causa de morte. Um em cada três homens e uma em cada quatro mulheres serão afetados pela doença ao longo da sua vida. A boa notícia é que o prognóstico tem melhorado, registando-se um aumento da sobrevida dos doentes”.

Em Portugal, continuou, “existirão 155 mil pessoas a viver com a doença ou sobreviventes e todos os anos surgem cerca de 60 mil casos. Destes, cerca de um terço irá necessitar de cuidados”.

Para a especialista, que falou a seguir à sessão de abertura, “os cuidados de Psico-Oncologia são um direito dos doentes e não podem ser negligenciados, sob pena de existir um impacto negativo nos resultados clínicos, nomeadamente na sobrevivência e na qualidade de vida”.

No entender de Luzia Travado, que fez parte da primeira equipa multidisciplinar de tratamento do cancro da mama no nosso país e deu treino a profissionais de saúde a nível nacional, “o sofrimento psicológico deve ser medido como o sexto sinal vital para que não mais passe despercebido ou ignorado. Hoje em dia há um manancial de intervenções eficazes na redução do sofrimento e da morbilidade psicológica que são baratas para o sistema e que devem fazer parte dos cuidados oncológicos de qualidade”.

Os investigadores esperam sensibilizar a sociedade civil, considera fundamental para “elucidar os políticos para as lacunas existentes”.

A equipa do CINTESIS na Universidade de Aveiro soma vários projetos na área da Oncologia Psicossocial, designadamente projetos relacionados com as preocupações reprodutivas, com o funcionamento cognitivo e com a capacidade de trabalho em sobreviventes de cancro.