A investigadora do CINTESIS Ana Luísa Neves quer determinar o impacto da partilha de registos de saúde eletrónicos com os doentes na qualidade dos cuidados prestados. O protocolo do estudo, desenvolvido juntamente com investigadores do Imperial College London (Reino Unido) e da Macquarie University (Austrália), foi recentemente publicado no BMJ Open.
“Na última década, os registos eletrónicos de saúde têm emergido como uma solução promissora para aumentar o acesso dos doentes à sua informação clínica. Atualmente existem várias plataformas que permitem partilhar esses dados clínicos com os doentes, nomeadamente resultados laboratoriais no contexto da diabetes tipo 2 e outros fatores de risco cardiovascular”, explica Ana Luísa Neves, pertencente ao grupo PrimeCare: Investigação em Cuidados de Saúde Primários, da Linha de Investigação 1 – Medicina Preventiva & Desafios Societais.
De acordo com a investigadora, “um melhor conhecimento, por parte dos doentes, em relação aos seus dados clínicos pode aumentar o nível de conhecimento sobre a sua saúde, assim como a sua capacidade de a gerir adequadamente”. No entanto, sublinha que subsiste um “gap” entre os benefícios previsíveis e os benefícios efetivamente demonstrados cientificamente.
Graças à estratégia sistemática e reprodutível agora proposta pela investigadora portuguesa, será finalmente possível caracterizar as intervenções de partilha de dados de saúde eletrónicos com os doentes implementadas até ao momento e descrever o seu impacto em varias dimensões, incluindo a centralidade no doente, a eficácia, a segurança, a eficiência, a oportunidade e a equidade.
A centralidade nos doentes inclui medidas relacionadas com a experiência reportada pelos próprios. A efetividade remete para resultados de saúde (por exemplo, controlo da tensão arterial ou da HbA1c na diabetes), enquanto a eficiência diz respeito a medidas de carácter económico, como o impacto no número de consultas. A segurança reflete dados como discrepâncias na medicação, ao passo que a oportunidade se refere a medidas de tempo, como redução de listas de espera. Finalmente, a equidade integra medidas que avaliam discrepâncias entre grupos de doentes.
Para Ana Luísa Neves, é necessário ir ainda mais longe e “mapear” a contribuição das intervenções com partilha de registos eletrónicos de saúde a breve, médio e longo prazo. “A implementação destas intervenções tem amadurecido a escala mundial. Agora é o momento de avaliar o seu impacto real, de forma que possamos aprender com o que foi feito, e gerar evidência robusta para apoiar decisões em matéria de políticas de saúde”, conclui a responsável.