Um grupo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde está a desenvolver uma ferramenta 3D que pretende dar um importante contributo para a cirurgia conservadora do cancro da mama.
A investigação está nas mãos de Inês Moreira e de Pedro Pereira Rodrigues, do CINTESIS, ao qual se associou Bruno Oliveira, especialista em Computação Gráfica, no sentido de criar um modelo biomecânico da mama a partir da mamografia com a capacidade de guiar os cirurgiões no bloco operatório.
“O objetivo é ajudar os cirurgiões a otimizar a cirurgia conservadora do cancro da mama, permitindo uma maior precisão e segurança”, explica Inês Moreira, que está a realizar o seu doutoramento no PDICSS – Programa Doutoral em Investigação Clínica e Serviços de Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), com o projeto “Development and assessment of a new tool to aid preoperative localization of nonpalpable breast lesions: a 3D mammogram”, orientado por Pedro Pereira Rodrigues, responsável pela Linha Temática “Health Data and Decision Sciences & Information Technologies” (TL3), do CINTESIS, e por Isabel Ramos e José Luís Fougo, professores da FMUP.
Segundo a investigadora do CINTESIS, que é também técnica de Radiologia do Centro da Mama do Centro Hospitalar de São João (CHS), no Porto, e docente da Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto, esta ferramenta permitirá obter imagens 3D da mama diretamente a partir da mamografia, algo que só é possível atualmente a partir de ressonância magnética, um exame mais demorado e mais dispendioso.
“A mamografia é uma radiografia com duas incidências, isto é, com duas vistas da mama, através da radiação X. O objetivo é, com estas duas vistas, criar uma imagem tridimensional para tornar mais fácil ao cirurgião a abordagem cirúrgica”, indica.
Ouvidos sobre este tema, os médicos cirurgiões e radiologistas do Centro da Mama do CHSJ elegem como essenciais na construção da nova ferramenta a determinação das margens cirúrgicas. “Nas cirurgias conservadoras, em que só se retira o tumor, é muito importante avaliar as margens de segurança. Se essa margem for menor do que 10 milímetros, o tumor pode continuar na mama e a doente pode ter de voltar ao bloco para uma nova operação cirúrgica”, frisa Inês Moreira.
Do mesmo modo, defendem a necessidade de se obter uma imagem 3D da mama com a doente na posição de decúbito dorsal (deitada de costas), uma vez que é nesta posição que decorre a cirurgia. “Atualmente, a mamografia é feita com a pessoa de pé e com a mama contraída. É um desafio fazer uma imagem tridimensional a partir de uma imagem bidimensional e em que a mama está comprimida”, indica a investigadora.
As vantagens da nova ferramenta são evidentes: “Para as mulheres, permitirá conservar o mais possível a mama e diminuir o número de reoperações. Para os hospitais sem possibilidade de realizar ressonância magnética mamária e que também fazem cirurgia à mama, permitirá ter imagens 3D a partir da mamografia, sem necessidade de encaminhar para outro hospital”.
Depois do desenvolvimento do modelo biomecânico, seguir-se-ão a fase de validação e um estudo que irá incluir mulheres submetidas a cirurgia do cancro da mama. A introdução na prática clínica poderá dar-se já em 2019.
O trabalho de Inês Moreira e Pedro Rodrigues está a suscitar a curiosidade da comunidade científica. Entre 24 a 26 de abril, a investigadora do CINTESIS estará na Medical Informatics Europe (MIE 2018), na Suécia, organizado pela Swedish Association of Medical Informatics (SFMI) e pela European Federation for Medical Informatics (EFMI), com um poster intitulado “Need and outcomes of a 3D breast image to aid conservative cancer surgery planning: results of a multidisciplinary focus group”.
Na sequência de um trabalho paralelo e, de alguma forma, precursor, Inês Moreira estará no Congresso Europeu de Radiologia ECR 2018 (European Society of Radiology), que decorrerá entre 28 de fevereiro e 4 de março, com uma comunicação oral intitulada “Learner’s perception, knowledge and behavior assessment within a breast imaging eLearning course for radiographers”, na qual irá apresentar os resultados das duas edições do Curso de Radiologia Mamária. O trabalho, realizado no âmbito do Mestrado em Informática Médica (MIM) deu origem a um artigo publicado no Journal of Medical Internet Research (JMIR). Em 2017, o Curso recebeu também uma menção honrosa na 3ª Edição do Prémio Inovação Pedagógica em Ensino a Distância (PIPED) promovido pela Unidade de e-learning e Inovação Pedagógica do Politécnico do Porto.
Anualmente realizam-se mais de 250 mil mamografias em Portugal (dados da DGS relativos a 2014) e há cerca de seis mil novos casos de cancro da mama, isto é, 11 casos novos por dia. Quatro mulheres morrem diariamente devido a esta doença.