“É premente aumentar a capacidade de testes para evitar um descontrolo da pandemia”, advertem investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS, numa altura em que Portugal começa a levantar as medidas restritivas. E dão o exemplo da França, onde o aumento da capacidade de testes é condição sine qua non para esse mesmo levantamento.
Mais importante que o aumento do número total de testes, os investigadores identificam a necessidade de rastrear de forma alargada os contactos dos novos infetados. “Todos os contactos, mesmo que assintomáticos, devem ser testados para a Covid-19”, afirmam, lembrando que esta medida explicará “o sucesso do Vietname”. Este país apresenta o maior número de testes por caso confirmado (791 versus 10 para Portugal), contabilizando entre os seus 97 milhões de habitantes apenas 270 casos de infeção e nenhuma morte.
Os investigadores sublinham que “o número de testes por caso confirmado é uma medida muito importante nesta fase de desconfinamento em que serão feitos muitos testes de rastreio e que continuar a olhar para a percentagem de testes positivos dá “uma falsa sensação de segurança”.
A equipa, que escreve o editorial da edição de maio da revista da Organização Mundial de Saúde (OMS), com o título “Simulation of the effects of COVID-19 testing rates on hospitalizations” (http://dx.doi.org/10.2471/BLT.20.258186) considera que “o aumento do número de testes diagnóstico à COVID-19 foi, provavelmente, um dos fatores mais importantes no sentido de evitar o colapso do sistema nacional de saúde em Portugal”.
Os investigadores estimam que o aumento do número de testes ocorrido entre 22 de março e 5 de abril pode ter permitido evitar mais de cinco mil internamentos e mil internamentos em unidades de cuidados intensivos, com poupanças na ordem dos 27 milhões de euros.
Naquele período de 15 dias, o número de testes por milhão de habitantes foi sete vezes maior do que o registado em 22 de março. Atualmente, esse número é já 35 vezes maior.
Para traçar diferentes cenários, esta equipa de cientistas criou uma ferramenta que permite simular o número de internamentos evitados e os custos económicos poupados com a realização de mais testes de diagnóstico à COVID-19. A nova ferramenta encontra-se disponível online, em http://simtestcovid.gim.med.up.pt.
“Neste simulador, é possível testar diferentes cenários, tendo por base a situação epidemiológica do país e variáveis relacionadas com a utilização de cuidados de saúde por parte de doentes com infeção Covid-19”, explica Bernardo Sousa-Pinto, um dos autores do artigo.
De acordo com o professor da FMUP e investigador do CINTESIS, encontram-se já pré-definidos cenários para simulação em oito países, incluindo Portugal.
A equipa de investigadores do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde da FMUP e do CINTESIS conta com Bernardo Sousa-Pinto, João Almeida Fonseca, Bruno Oliveira, Ricardo Cruz Correia, Pedro Pereira Rodrigues, Altamiro Costa-Pereira e Francisco Nuno Rocha-Gonçalves.