Uma equipa de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) está a desenvolver um projeto de monitorização ativa da segurança da terapêutica utilizada no contexto da COVID-19 nos hospitais do distrito do Porto.
O projeto “Intensive Drug Monitoring COVID-19” decorre no âmbito da atividade desenvolvida pela Unidade de Farmacovigilância do Porto (UFPorto), liderada por Jorge Polónia, investigador do CINTESIS e professor da FMUP.
Um dos objetivos deste estudo, de carácter multicêntrico, é desenvolver uma base de dados de reações adversas aos medicamentos (RAM) em doentes com COVID-19. Pretende-se também caracterizar o perfil farmacoterapêutico antes da infeção por SARS-CoV-2 em doentes com COVID-19, de modo “a avaliar o efeito favorável, desfavorável ou neutro desse perfil no curso da infeção, em termos de suscetibilidade, gravidade e desfecho”.
De acordo com um artigo publicado na Acta Médica Portuguesa (“O Papel da Farmacovigilância em Contexto de Pandemia por COVID-19”), este projeto irá recolher dados sobre RAM de forma retrospetiva e prospetiva, sendo que nesta última irá permitir detetar “sinais de risco em tempo real”.
Nesse sentido, a equipa irá rastrear os registos clínicos e monitorizar ativamente a medicação administrada aos doentes com COVID-19 identificados nas várias instituições de saúde, inclusivamente após a alta hospitalar.
“As metodologias de monitorização ativa poderão contribuir para se ter uma noção mais exata da realidade das RAM associadas à COVID-19 na prática clínica, nomeadamente no que diz respeito aos medicamentos usados no tratamento”, referem os autores do estudo.
Até à data, dizem, apenas os fármacos remdesivir e dexametasona foram aprovados para o tratamento da COVID-19 pelas autoridades reguladoras, com indicações muito restritas e, no caso do remdesivir, com resultados contraditórios, justificando uma monitorização atenta.
Um dos grandes obstáculos à monitorização das RAM em doentes infetados será a evolução para um estado crítico. Outro fator que pode dificultar um melhor conhecimento das RAM é a idade dos doentes.
Na União Europeia, as reações adversas a medicamentos representam 6,5% dos internamentos e 197 mil mortes por ano.
Além de Jorge Polónia, participam neste estudo Renato Ferreira da Silva, Inês Ribeiro Vaz, Ana Marta Silva e Joana Marques (CINTESIS/FMUP) e Manuela Morato, da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. O projeto conta ainda com a colaboração dos delegados de farmacovigilância da UFPorto nas respetivas instituições de saúde onde exercem atividade profissional.