A vasta maioria dos médicos está alerta para a importância de desprescrever (reduzir ou retirar) medicamentos inapropriados em doentes idosos, embora nem todos os clínicos utilizem metodologias e critérios específicos para tal na sua prática clínica.
Um estudo assinado por Anabela Pereira e Oscar Ribeiro, investigadores do CINTESIS@RISE/Universidade de Aveiro, e Manuel Veríssimo do iCBR/Faculdade Medicina da Universidade de Coimbra, analisou a consciencialização, atitudes, formação e práticas de desprescrição entre os médicos portugueses.
O objetivo desta investigação, publicada na Acta Médica Portuguesa, foi informar futuras estratégias e políticas de saúde sobre desprescrição, tendo em conta que Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa.
A desprescrição consiste em retirar ou reduzir medicação considerada potencialmente inapropriada, de forma segura e baseada em evidência, como forma de diminuir a polimedicação e, desta forma, reduzir eventos adversos e melhorar resultados em saúde. É particularmente importante nas pessoas mais velhas, que são, em geral, as mais polimedicadas devido à existência de várias doenças em simultâneo.
De acordo com os autores, os resultados destacam “uma ampla consciencialização sobre a desprescrição entre os médicos portugueses”, mas revela “lacunas e inconsistências na sua aplicação”, lembrando que a desprescrição é “um conceito relativamente recente e que só nos últimos anos tem se afirmado como uma abordagem segura e eficaz para otimizar a medicação dos doentes idosos”.
No inquérito realizado, 92% dos médicos efetuavam a desprescrição, mas apenas cerca de 40% utilizavam metodologias específicas para desprescrever e/ou critérios para identificar os medicamentos potencialmente inapropriados.
Os autores revelaram que, no estudo realizado, a formação em desprescrição está associada ao uso de metodologia para desprescrever. “Tendo em conta que menos de metade dos médicos participantes tinha formação em desprescrição, este pode ser um dos fatores que explica a lacuna encontrada”, indicam.
Os especialistas em Medicina Geral e Familiar e os especialistas em Medicina Interna foram os que revelaram “maior familiaridade e formação em desprescrição” e referiram “adotar mais frequentemente as metodologias de desprescrição”, quando comparados com os médicos a exercer em hospitais.
De acordo com Anabela Pereira, investigadora do CINTESIS@RISE, estes dados sublinham “a necessidade de desenvolver políticas e iniciativas nacionais direcionadas à otimização da medicação nos idosos, no Sistema Nacional de Saúde”.
Do mesmo modo, as conclusões agora publicadas enfatizam “a importância do abordar as atuais lacunas e de desenhar uma estratégia para implementar a desprescrição segura como parte dos cuidados de saúde à população mais velha”.