É alentejano, professor de alma e coração, político com espírito livre, dirigente e líder com experiência de décadas em várias instituições de ensino. É também católico praticante, pai de 3 filhos e cozinheiro de mão cheia. José Manuel Silva é, aos 69 anos, investigador integrado do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, liderando um projeto na área dos cuidados formais e informais a partir da Escola Superior de Saúde Santa Maria, que lidera há seis anos.
José Manuel Silva nasceu no Redondo, no Alentejo, em 1950, mas foi para Lisboa aos 9 anos para fazer o exame de admissão ao liceu. Andou muitos anos entre Évora, Redondo e Lisboa, e mais tarde entre Torres Novas, Boston, Leiria e Espanha. “As minhas raízes estão no Alentejo, mas sempre andei por todo o lado, sou um cidadão do mundo. Como dizia a minha mãe, a nossa terra é onde nos tratam bem”, diz.
Foi sempre politicamente ativo, desde adolescente, tendo passado pelo Partido Comunista Português (PCP). À distância, recorda essa relação como “um namoro colorido” e diz que tinha “uma visão romântica”. Mais do que militante de um partido, foi sempre “militante de causas”, não abdicando de uma intensa atividade sindical e de intervenção social.
Aos 19 anos, já trabalhava. Na tropa, fez um curso que acabou por lhe abrir as portas do ensino. Em 1974, já dava aulas de educação física. Com apenas 25 anos, foi nomeado para a administração de uma empresa com cerca de 400 trabalhadores.
Quis ser sociólogo ou antropólogo, mas acabou por fazer a licenciatura em História pela Universidade de Lisboa. Deu aulas na Escola Secundária Maria Lamas, em Torres Novas, concelho onde foi diretor do Museu e da Biblioteca Municipal. Entre 1983 e 1985, rumou a Boston, nos EUA, para fazer o seu mestrado em Ciências da Educação. No regresso, foi um dos fundadores da Escola Superior de Educação de Leiria, integrada no Instituto Politécnico de Leiria.
Foi vereador Câmara Municipal de Leiria pelo Partido Socialista, deputado municipal e presidente da Assembleia Municipal. Foi também diretor-regional de educação do Centro entre 2005 e 2006, mas confessa que se sentiu desiludido e que ficou “vacinado”. “Sou uma pessoa de espírito livre”, desabafa.
Deixou o cargo para abraçar o desafio de fazer uma pós-graduação em Direção Estratégica pela Universidade Politécnica da Catalunha e o doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade da Extremadura (Espanha), com uma tese sobre liderança escolar, que terminou em 2009.
De regresso a Leiria, chegou a idade de “meter os papéis para a reforma”. Estávamos em 2012. Um belo dia, abriu o jornal Expresso e encontrou uma vaga para administrador de uma instituição do ensino superior no Porto. “Mandei a candidatura. Passados uns dias, chamaram-me para uma entrevista. Achei um desafio fantástico. Dirigir escolas é o que eu sei fazer e faço há muitos anos. Além disso, gosto de estar onde posso ser útil”, afirma.
Assumiu o cargo de presidente do Conselho de Direção da ESSSM em 2013, tendo apostado em várias frentes, entre as quais a investigação. Em busca de um impulso nesta área, aderiu ao CINTESIS, em 2017, juntamente com outros investigadores da sua instituição. “Não sou um académico puro. A investigação interessa-me por razões instrumentais, porque gosto de ir ao fundo das questões”, refere.
Atualmente, é membro da direção da Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado (APESP) e do Conselho Consultivo da A3ES. É ainda investigador principal do projeto ICAVI, na área dos cuidados formais, que visa estudar o modelo de organização de um Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI), numa parceria entre o CINTESIS, a ESSSM, a Associação Portuguesa de Neuromusculares (APN) e a Caregivers Portugal, que fundou e à qual preside. Está ainda envolvido num projeto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o desenvolvimento do pensamento crítico em estudantes do ensino superior, com mais três dezenas de instituições em diferentes países.
Nas relações pessoais, diz que se está “nas tintas para os títulos” e trata toda a gente de igual para igual. Mas educação não é o mesmo que modéstia, sublinha, sobretudo quando se trata de liderança. Embora tenha deixado a política ativa, não se coíbe de dizer o que pensa nos jornais (escreve no Observador e no Jornal de Leiria) e nas redes sociais.
Ambição a 1 ano?
Em termos de investigação, a 1 ano, queríamos consolidar a atividade do núcleo de investigação da Escola, dar maior robustez à nossa ligação do CINTESIS e retirar proveito dos recursos materiais e humanos para irmos mais longe.
Ambição a 10 anos?
Fazer previsões a 10 anos é difícil. A minha ambição é que a ESSSM cresça, se robusteça e responda a uma sociedade com níveis cada vez mais elevados de longevidade. A nossa estratégia é formar profissionais que correspondam cabalmente às necessidades que decorrem daí. Em termos de investigação, queremos ser referência nesta área, com o foco nos cuidadores formais, que devem ser profissionais altamente qualificados e devem assumir um papel cada vez mais importante.
Que vida para além da gestão e da investigação?
Nos meus tempos livres, o que mais gosto de fazer é cozinhar e cozinho bem, modéstia à parte. A minha culinária assenta em pratos alentejanos e na cozinha tradicional portuguesa. Faço uma excelente sopa de peixe e adoro fazer borrego assado, como deve ser, com batatas ou com uma salada avinagrada, bem típica do Alentejo. Agora ando a especializar-me em strudel. Gosto de fazer jantares para os amigos. Normalmente gabam tudo o que eu faço [risos]. De resto, dedico-me à leitura, continuo a gostar muito da política, intervenho muito nas redes sociais.