Com licenciatura e mestrado em Enfermagem e doutoramento em Ciências da Educação, é docente, investigador do CINTESIS, coordenador do SafeCare e atual presidente da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP). Chama-se Luís Carvalho e tem 55 anos. Nasceu em Angola e tinha apenas 12 anos quando a guerra o enviou para Portugal. Corria então o ano de 1975. Junto com ele veio toda a família, que viveu uma fase “muito complicada”.
Viana do Castelo foi a sua segunda casa até ao final do curso de Enfermagem. Mudou-se para o Porto em 1984 com o objetivo de trabalhar no IPO – Instituto Português de Oncologia, que já então era uma instituição de referência nas doenças oncológicas. Pelo meio, teve de cumprir dois anos de serviço militar obrigatório. Nada mais nada menos do que em operações especiais, nos “Rangers”.
De regresso ao trabalho, aliou sempre a prática da Enfermagem com a Educação. Em 1989, decidiu concorrer a um lugar de professor na então Escola de Enfermagem D. Ana Guedes. Foi admitido e optou pela carreira de professor do ensino superior.
Em 2007, pela fusão das Escolas Superiores de Enfermagem públicas da cidade do Porto, foi criada a Escola Superior de Enfermagem do Porto. Na ESEP, foi coordenador do curso de Licenciatura e, em 2013, assumiu a presidência do Conselho Científico, mandato que terminou em 2017. Foi eleito, por unanimidade, presidente da Escola em 2018.
“Encaro este desafio com sentido de responsabilidade e espírito de missão. Não me candidatei a presidente da Escola por ambição pessoal, nem por vaidade. Sinto uma grande motivação para servir a ESEP, por me poder colocar à disposição da Escola e da comunidade, até porque acredito nas qualidades da nossa academia, que asseguram a capacidade de lutar por tudo aquilo em que acreditamos”, afirma.
O curso de Licenciatura da ESEP é o que tem a média mais alta do país, no que à Enfermagem diz respeito, sendo uma das mais procuradas, com 1069 candidatos para as 257 vagas disponíveis.
Contudo, o trabalho tem sido árduo. “Vivemos uma fase de grandes restrições orçamentais, de dificuldades internas pela necessidade de implementar processos de grande complexidade, nomeadamente a avaliação do desempenho dos docentes e o processo de acreditação do sistema de gestão da qualidade”, indica.
Como investigador, está envolvido atualmente em diferentes projetos de investigação, sendo coordenador do SafeCare – Supervisão Clínica para a Segurança e Qualidade dos Cuidados. Financiado pela União Europeia e pelo FEDER em mais de 122 mil euros, este projeto é desenvolvido pelo CINTESIS/ESEP, em parceria com o Instituto Politécnico de Viana do Castelo e a Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM).
“É um projeto de investigação-ação: na fase inicial realizamos a avaliação das necessidades dos enfermeiros em supervisão clínica, na segunda fase implementamos o modelo contextualizado e na terceira fase procedemos à avaliação dos contributos da Supervisão Clínica para a segurança e qualidade dos cuidados”, explica o responsável.
Sendo investigador, não pode deixar de olhar com bons olhos que os seus alunos e os docentes da instituição que dirige façam investigação. Conforme diz, a investigação é “imprescindível! A Escola tem tentado oferecer condições aos seus docentes para que possam fazer investigação e disponibiliza recursos, incluindo financeiros”.
Quanto à parceria com o CINTESIS, Luís Carvalho afirma que é “estratégica a vários níveis. Eu era membro do Conselho Científico quando avançámos por este caminho, juntando-nos ao CINTESIS, uma organização forte, consolidada, que tem permitido alavancar a investigação que produz e consolida conhecimento, partilhar ideias com investigadores de outras áreas e granjear o reconhecimento da investigação em Enfermagem. Esta parceria tem permitido também uma aproximação estratégica à Universidade do Porto”.
Quanto ao futuro, Luís Carvalho já traçou o rumo: “A maior parte dos nossos professores são investigadores no CINTESIS e praticamente todos os projetos de investigação estão alocados a este centro. A minha perspetiva, enquanto presidente da Escola, é manter esta estratégia. Temos desafios para discutir em articulação com o CINTESIS, mas a nossa intenção é manter esta aposta e contribuir para a consolidação da Enfermagem enquanto disciplina do conhecimento, o que resultará, sem dúvida, numa Enfermagem mais significativa para as pessoas”.
Ambição a um ano?
No próximo ano, a minha ambição é claramente estabilizar a Escola e implementar um modelo de governação estratégica, adotando um novo modelo organizativo, que passa pela reorganização dos serviços e pela implementação de um novo sistema de gestão documental e académica. Importa, também, rever a oferta formativa da ESEP, adaptando-a ao modelo de desenvolvimento profissional apresentado pela Ordem dos Enfermeiros.
Ambição a 10 anos?
As minhas ambições são as ambições da Escola. Encaro estes quatro anos de mandato com espírito de missão. O objetivo é consolidar o modelo de gestão e desenvolver estratégias no sentido de criar condições para a integração da Escola na U.Porto, enquanto Unidade Orgânica, desde que esse seja um desejo partilhado. Para os próximos anos, temos que apostar na sustentabilidade, na inovação e na qualidade, que são elementos fundamentais para enfrentar os desafios e os constrangimentos do presente e para projetar o futuro da Escola, no quadro da defesa da sua autonomia, centrada numa organização que pretende ser criativa e inovadora, competitiva e sustentável.
Que vida para além da investigação e da presidência da ESEP?
O meu dia é integralmente dedicado à Escola. Não tenho muitos tempos livres, mas esses são totalmente dedicados à família e aos amigos. A minha candidatura a presidente da Escola foi discutida e partilhada em família, que agora compreendem as minhas restrições. Sou casado e tenho dois filhos maravilhosos. Gostamos do contacto com a natureza, especialmente de passear junto à praia, e de atividades culturais. Vamos regularmente ao cinema, ao teatro e a espetáculos de música.