Maria José Lumini é investigadora do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde – CINTESIS / Escola Superior de Enfermagem (ESEP) desde o início, integrando o grupo NursID – Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem, onde se tem destacado pela investigação realizada na área dos cuidadores informais e das tecnologias da informação e comunicação (TIC) no ensino. Nasceu há 58 anos, em Paranhos, no Porto, onde cresceu. Concluiu o secundário no Colégio António Nobre e pensava candidatar-se a Biologia, na Faculdade. Uma amiga que estava a fazer Enfermagem trocou-lhe as voltas, com o seu entusiasmo. Decidiu seguir o mesmo rumo.

Ingressou na Escola de Enfermagem São João (atual Escola Superior de Enfermagem do Porto). Em dezembro de 1985, concluiu o curso. Um mês depois, em janeiro de 1986, já estava a trabalhar no Hospital de São João (atual Centro Hospitalar Universitário de São João). Exerceu funções como enfermeira numa Unidade de Cuidados Intensivos, na Cirurgia Programada, e depois de se especializar em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na Unidade de Cuidados Intermédios de Cardiologia do mesmo hospital.

Em 2000, foi-lhe lançado o desafio de integrar a carreira docente na ESEP, onde é atualmente Professora Adjunta. “Foi o ponto de viragem. O ensino permite-me não só transmitir conhecimentos aos estudantes e ajudá-los a vários níveis, mas também ter mais autonomia para criar, integrar projetos, investigar. O ensino continua a ser, para mim, um grande desafio”, afirma.

Em 2006, terminou o mestrado em Ciências da Enfermagem pelo ICBAS e, em 2016, concluiu o doutoramento pela mesma instituição. “A investigação permitiu-me inovar, criar, estar próxima da comunidade, com o desafio de fazer um trabalho em rede, colaborativo”, congratula-se

Pertence ao Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde – CINTESIS desde o início, integrando o grupo NursID, sob a liderança de Carlos Sequeira. “A experiência que tenho tido é bastante positiva. As minhas principais áreas de interesse, como investigadora, são os cuidadores informais, desde o doutoramento, altura em que estudou o papel das TIC neste tipo de cuidados.

Coordena a equipa que desenvolveu a plataforma Intent-Care, uma ferramenta tecnológica interativa com o objetivo de fornecer informação adaptada às necessidades dos familiares cuidadores de pessoas em situação de dependência, complementando a informação prestada pelos profissionais de saúde.

Trata-se de uma plataforma de livre acesso, com recursos educativos e conteúdos informativos em ambiente digital que ajudam os cuidadores informais a prestarem melhores cuidados. O destaque vai para os vídeos que explicam passo a passo como realizar tarefas como posicionar, transferir, alimentar e gerir a medicação da pessoa em situação de dependência.

“A plataforma não é um produto acabado. Temos vindo a criar novos módulos, juntamente com estudantes de mestrado. Pretendemos, agora, a curto prazo, criar um novo módulo de prevenção de quedas, incluindo alguns exercícios que visam estimular a parte motora, o equilíbrio e a força muscular”, conta.

Para exemplificar o que se faz no Intent-Care, Maria José Lumini participou quinzenalmente na rubrica Cuidadores, da Praça da Alegria, na RTP1. “Penso que teve impacto e que conseguimos ajudar a comunidade. É esse também o nosso desejo como investigadores: que a investigação tenha um forte impacto na comunidade”, considera.

Outro projeto que liderou, intitulado “Ser cuidador na pandemia por COVID-19: a massive open online course (MOOC) sobre medidas de prevenção e de autocuidado aos mais vulneráveis”, foi um dos vencedores da segunda edição do concurso RESEARCH 4 COVID-19, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A investigadora obteve financiamento para desenvolver um MOOC que visava capacitar os cuidadores informais e melhorar os cuidados prestados aos seus familiares mais vulneráveis, no contexto domiciliário, de forma a prevenir a infeção por SARS-CoV-2. O MOOC foi integrado na plataforma NAU, em 2021.

“As reações foram muito positivas. Tivemos muitas pessoas inscritas. Depois do Curso, fomos abordadas para reformularmos o curso e fazermos uma nova edição”, adianta.

Entre 2013 e 2020, foi membro da European Innovation Partnership on Active and Healthy Ageing (EIP-AHA), numa colaboração com parceiros europeus da qual resultaram vários trabalhos, nomeadamente um “booklet” para definição de guidelines para o desenvolvimento de soluções tecnológicas e um “livro branco” sobre o papel das novas tecnologias em cuidadores. “A participação nesta Rede foi muito importante no meu desenvolvimento profissional e até pessoal”, reconhece.

A investigadora integra igualmente o projeto iGestSaúde – Aplicativo de Autogestão da Doença Crónica, juntamente com Célia Santos, coordenadora, e outros investigadores do CINTESIS/ESEP, mais concretamente no Módulo 2 – iGestSAúde Diabetes. O objetivo é desenvolver aplicações informáticas de monitorização e controlo da gestão do regime terapêutica em pessoas com doenças crónicas.

Outro desafio, assumido no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), é a elaboração de um MOOC para cuidadores Informais que visa capacitar e sensibilizar os familiares cuidadores para melhor cuidarem de pessoas dependentes e de si próprios, mantendo a sua saúde e bem-estar. A investigadora irá também colaborar no desenvolvimento de outro MOOC, este destinado a enfermeiros gestores de cuidados em exercício em estruturas residenciais para idosos (EPI).

Ambição a 1 ano?

No próximo ano, temos de desenvolver os dois MOOC e tentar completar os projetos que tenho em curso, como o Intent-Care. Temos de continuar a desenvolver novos temas, como recriação e lazer, o bem-estar do cuidador, entre outros, e consolidar o – iGestSaúde, na vertente – iGestSAúde Diabetes.

Ambição a 10 anos?

A 10 anos, pretendo manter-me nestas grandes áreas de investigação: a utilização das TIC no processo de ensino e aprendizagem, os familiares cuidadores e, em particular, cuidadores de pessoas em situação paliativa. Esta é uma área que quero estender.

Gostaria também de manter a parceria com a Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, e inclusive tornar possível a implementação e avaliação da plataforma Intent-CARE naquela cidade.

Na sequência do trabalho que mantiver de 2013 a 2020 na EIP-AHA, gostaria ainda de estar envolvida na IN-4-AHA – Innovation Networks for Scaling Active and Healthy Ageing. 

Que vida para além da investigação e da docência?

Tenho uma vida tranquila e reservada. No pouco tempo livre que tenho, tento manter alguns hábitos de vida saudáveis. Faço ginástica, gosto muito de fazer caminhadas, faço parte do grupo coral da ESEP, gosto de cantar, de ler, de ver séries e de ir a concertos.