Colocar a Inteligência Artificial (IA) ao serviço da saúde digestiva e da qualidade de vida das pessoas é um dos principais propósitos de Miguel Mascarenhas, médico, professor e investigador na área da Gastrenterologia.
Aos 35 anos, presidiu ao evento internacional AI in Digestive Healthcare: Shaping the Future, que se realizou no dia 29 de novembro, com o apoio do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.
A iniciativa reuniu centenas de especialistas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), instituição onde Miguel Mascarenhas fez o Mestrado Integrado em Medicina e o doutoramento e onde é professor.
Atualmente, além de professor da FMUP e investigador da Unidade de Investigação RISE-Health, Miguel Mascarenhas é médico gastrenterologista na ULS São João e CEO da U.Porto spin-off DigestAID.
Animado por um espírito naturalmente sonhador e empreendedor, tem-se focado em explorar o potencial verdadeiramente transformador da Inteligência Artificial na saúde e em várias áreas dos cuidados digestivos, com aplicações particularmente promissoras na endoscopia por cápsula e na anoscopia de alta resolução.
Como sublinha Miguel Mascarenhas, “a IA está a revolucionar a forma como as doenças gastrointestinais são diagnosticadas e monitorizadas, permitindo uma deteção mais precoce e precisa de lesões e condições que, de outra forma, poderiam passar despercebidas”.
Do seu percurso faz parte o desenvolvimento de soluções inovadoras que permitem identificar tumores e lesões precursoras de cancro com mais eficácia e mais rapidez, respondendo aos desafios da prática clínica.
Pelo seu trabalho, foi já distinguido 2 vezes com o premio de melhor trabalho científico do Colégio Americano de Gastrenterologia (2022 e 2024) e com o Prémio Banco Carregosa/Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) pelo pelos seus projetos pioneiros na área da saúde digestiva, em colaboração com instituições de referência em vários países, como Estados Unidos, Espanha, França, Brasil e Reino Unido.
– Ambição a 1 ano?
No próximo ano, proponho-me a alargar estrategicamente a rede de centros parceiros na área da saúde digestiva, promovendo sinergias que potenciem a partilha de conhecimento especializado e o desenvolvimento de soluções inovadoras baseadas em Inteligência Artificial. Este esforço visa não apenas consolidar a colaboração interdisciplinar, mas também estimular a investigação translacional, alinhada com as necessidades reais da prática clínica.
Paralelamente, dedicarei atenção à criação de novas tecnologias disruptivas, bem como ao processo de maturação e validação científica das soluções já existentes, assegurando a sua robustez, eficácia e aplicabilidade prática. Este equilíbrio entre inovação e consolidação tecnológica será fundamental para garantir o impacto clínico e científico das aplicações desenvolvidas, promovendo avanços significativos na abordagem diagnóstica e terapêutica das patologias digestivas.
– Ambição a 10 anos?
Nos próximos 10 anos, proponho-me a consolidar uma rede global de centros de excelência em especialidades médico-cirúrgicas, promovendo colaborações estratégicas que impulsionem o desenvolvimento e a validação de soluções de Inteligência Artificial com impacto clínico sólido e comprovado.
O enfoque estará na obtenção de aprovação regulatória destas tecnologias inovadoras e na sua integração eficaz na prática clínica, com o propósito de revolucionar os cuidados médicos, tornando-os mais precisos, acessíveis e impactantes. Estas ferramentas terão como objetivo proporcionar diagnósticos mais precoces e intervenções terapêuticas mais eficazes, reduzindo significativamente a carga das doenças graves e elevando a qualidade de vida dos doentes.
Esta visão é pautada por um profundo compromisso humanitário, alicerçado na convicção de que a inovação tecnológica deve ser um veículo de transformação que transcenda as barreiras do acesso desigual à saúde. A missão é clara: contribuir para um sistema de saúde global mais justo e eficiente, onde a tecnologia serve não apenas para aprimorar práticas médicas, mas também para oferecer cuidados mais humanos e inclusivos, com impacto direto na vida de quem mais necessita.
– Que vida para além da investigação?
Os meus tempos livres são dedicados às coisas que me trazem equilíbrio e inspiração: ler sobre história, que me ajuda a compreender o presente; praticar desporto, pela capacidade de superação e entreajuda; viajar, para conhecer novas culturas e perspetivas; e, claro, estar com a minha família, que torna qualquer momento especial.
Foto: FMUP/Miguel Matias