Uma plataforma digital, criada com e para as pessoas mais velhas, está a ajudar a combater a solidão e o isolamento social, ao mesmo tempo que promove o empoderamento e melhora a saúde física e mental dos utilizadores, onde quer que estejam, seja em casa, seja numa instituição, através de atividades físicas e cognitivas adaptadas e personalizadas, que vão do Tai Chi aos jogos mentais.
Esta ferramenta resulta do MOAI LABS, um laboratório transnacional que juntou nove parceiros de três países europeus (Portugal, Espanha e França), incluindo os investigadores do CINTESIS/Universidade de Aveiro Sara Guerra, Liliana Sousa e Oscar Ribeiro. O projeto foi liderado pela Fundación INTRAS, de Espanha, e financiado pelo FEDER, no âmbito do programa Interreg Sudoe).
O projeto já foi reconhecido como exemplo de “boa prática”, no lançamento do novo programa do Interreg Sudoe (2021-2027), em Santander, em janeiro de 2023, tendo sido ainda vencedor do Annual Act of Regional Policy and European Funds (na categoria European Territorial Cooperation), em novembro último.
O objetivo do MOAI LABS era criar, em conjunto com pessoas mais velhas (cerca de quatro dezenas de “especialistas por experiência” que compunham os “Living Labs”), uma solução digital inovadora para responder aos desafios da solidão e do isolamento nestas idades.
Sara Guerra, investigadora do CINTESIS/Universidade de Aveiro que esteve totalmente dedicada ao projeto desde o seu início, faz um balanço muito positivo e recorda as principais fases e resultados alcançados.
“As pessoas mais velhas que participaram no projeto, os especialistas por experiência, ajudaram-nos a compreender o que é a solidão, o que é o isolamento, como os vivenciam e que estratégias utilizam”, recorda.
As respostas são eloquentes: “A solidão é um estado da alma, que engloba tristeza, uma sensação de abandono e angústia. Posso estar no meio de muita gente, mas, se não me compreenderem, vou sentir-me só.”
Depois, “ao longo de um conjunto de sessões de cocriação, as pessoas mais velhas deram-nos indicações práticas sobre as funcionalidades que uma solução digital deveria ter e sobre os cuidados que teríamos de seguir para que esta fosse interessante, estimulante, acessível, fácil de utilizar e inclusiva”.
Reunidos os requisitos mais valorizados pelos mais velhos (que resultaram em dois desafios: ACTIVATE e CONNECT), o projeto lançou uma “call” às quais se candidataram várias empresas da área tecnológica com as suas propostas. A vencedora foi uma empresa portuguesa, que beneficiou de um programa de aceleração para adaptar a app ACTIF AGE às necessidades, exigências e expectativas dos referidos “grupos de especialistas”.
Nos últimos meses do projeto, que terminou em janeiro de 2023, a plataforma online foi testada junto dos grupos de adultos mais velhos que já haviam participado nas sessões de cocriação. Desta forma, foram envolvidos do início ao fim, desde a conceção da ideia até à sua aplicação prática.
A plataforma resultante permite, por exemplo criar um calendário de atividades de acordo com as necessidades, interesses e a situação clínica das pessoas, mediante a informação disponibilizada num questionário.
A partir daí, fornece sugestões de visualização de vídeos de estimulação cognitiva com diversos graus de dificuldade, vídeos de estimulação funcional adaptados, vídeos de cultura, mas também de atividades como ioga, alongamento ou meditação. É preciso apenas ter internet e um computador, tablet ou televisão.
Como referem os criadores, as atividades resultam de um trabalho de fundo com a academia e com especialistas de diferentes áreas, como a fisiatria e a geriatria, e envolve instrutores qualificados, apoiando-se na ciência.
Além disso, a ferramenta dispõe de um chat onde as pessoas que utilizam a plataforma podem conversar, enviar fotografias, fazer convites, entre outras potencialidades. “As soluções digitais, como aplicações, robôs sociais ou mesmo soluções que envolvem inteligência artificial, são importantes, embora as pessoas mais velhas continuem a preferir o contacto cara a cara”, observa.
Do projeto resultaram também eventos de sensibilização e consciencialização para os desafios da solidão e do isolamento social nos adultos mais velhos, como o “Connect 2 Older People”, bem como a publicação de artigos científicos e a apresentação de posters e comunicações orais em vários países, nomeadamente nos EUA, Portugal e Espanha.
O evento final do MOAI, intitulado “MOAI TODAY: together against loneliness”, decorreu em Valladolid, em janeiro deste ano, tendo reunido aproximadamente. 1200 pessoas, incluindo decisores políticos.
Apesar de o MOAI LABS ter chegado oficialmente ao fim, Sara Guerra refere que “existe o interesse da parte de vários parceiros em continuar a testar a plataforma na comunidade, nomeadamente no contexto de instituições e na comunidade”.
O MOAI LABS: Laboratórios de Inteligência Coletiva e Tecnologia Social e de Saúde para combater o isolamento e a solidão das pessoas idosas é um projeto financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), no âmbito do programa Interreg Sudoe, com um montante global de quase um milhão e meio de euros. O projeto envolveu entidades de Espanha (Fundación INTRAS, Gerencia de Servicios Sociales de Castilla y León, FUNGE Formación y Empleo, LEITAT e Ticbiomed), França (Institut des Métiers de la Longévité e Mutualité Française Limousine) e Portugal (CINTESIS/Universidade de Aveiro e INOV INESC Inovação), tendo o CINTESIS.UA como colaboradores diretos o CASO50+, o Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP), o Porto4Ageing e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.