Mónica Sousa é investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, onde pesquisa essencialmente na área da Nutrição no Desporto, com destaque para o tema da suplementação. Agrega investigação, docência e prática clínica. É professora Auxiliar Convidada na NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas, consultora da Comissão Médica e Antidopagem da European Athletics, coordenadora da área de Nutrição na Federação Portuguesa de Atletismo desde 2019 e do departamento de Nutrição do Sporting Club de Portugal Modalidades, que inclui todas as modalidades exceto o futebol de 11, desde 2021.

Nasceu a 16 e julho de 1985, em Lisboa. Sempre quis aliar a nutrição ao desporto, mas nem sabia que era possível fazer disso profissão. Por um lado, os pais davam e dão muita importância aos alimentos saudáveis.

“Tenho a sorte de vir de uma família que valoriza muito os alimentos e que privilegia alimentos de qualidade, embora não sejam da área da saúde (o pai era engenheiro e a mãe, advogada). Foi sempre natural para mim ter essa preocupação. Gostava muito de ir ao mercado com o meu pai, desde pequenina. Sempre tive uma ligação especial com a comida, de uma forma muito natural”, recorda.

Por outro lado, faz desporto desde criança. Como nadadora do Clube TAP Portugal e depois do CDUP, foi recordista nacional de estafetas, em juniores, e venceu vários campeonatos.

Em 2003, entrou na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), então a grande referência, e começou logo a dar nas vistas, quando recebeu dois prémios (Prémio de Mérito pela melhor média do curso e Prémio Incentivo da U.Porto pela melhor média do primeiro ano). Em 2007, regressou a Lisboa para realizar o estágio curricular como nutricionista, em três instituições distintas: no Hospital da Marinha, na Federação Portuguesa de Natação e na Federação Portuguesa de Atletismo. Começou aqui a sua ligação a esta Federação. Fez o IOC Diploma in Sports Nutrition do Comité Olímpico Internacional (COI), entre 2010 e 2011, e o Programa Doutoral em Ciências do Desporto da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), entre 2010 e 2015, com bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

No seu doutoramento, “o objetivo foi comparar a capacidade de recuperação de um suplemento com um conjunto de alimentos em batido. Hoje, isto chama-se food first aproach, mas, na altura, ainda nem tinha um nome. Era uma tentativa de mostrar que os alimentos podem ser uma mais-valia em relação aos suplementos”.

Regressou a Lisboa para coordenar uma equipa de nutricionistas de uma clínica de Nutrição a Nutribalance). Começou a dar aulas em 2016, na Universidade Lusófona em Lisboa e no Politécnico de Leiria, onde se manteve até 2018, conciliando a atividade docente, a clínica e a investigação.

Em 2018, juntou-se à equipa de Conceição Calhau no CINTESIS e na NOVA Medical School. “O facto de ter investigadores de várias áreas torna esta rede de contactos muito mais facilitada. Trabalhar todos os dias com as pessoas que integram o grupo de investigação também facilita esta ligação. O CINTESIS é uma instituição grande, que dá visibilidade, que permite concorrer em grandes concursos internacionais, com sucesso”, testemunha.

Nos últimos anos, tem publicado vários artigos sobre a atleta feminina. publicou um artigo de revisão que inclui, entre outros temas, a informação que sabemos até ao momento de como possivelmente adaptar a intervenção nutricional em função das fases do ciclo menstrual. Subscreve o lema “Women are not small men”, lançado por Stacy Sims, e defende que é preciso continuar a investigar nesta área.

“A informação é muito pouca, é muito incipiente para fazer estes ajustes. A verdade é que a investigação ainda é maioritariamente em homens. É mais fácil, porque não têm questões associadas às variações do ciclo menstrual. Investigar em mulheres implica recolher dados nas mesmas fases do ciclo e do treino. Mas não dá para fingir que é igual porque, de facto, não é”, sublinha.

Em 2022, publicou dois artigos no Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports sobre a atleta feminina de elite, mais concretamente sobre a ausência de alterações na microbiota intestinal depois de um torneio internacional e outro sobre a suplementação nutricional em jogadoras de futebol de equipas principais de vários países.

Já neste mês de maio, venceu, com uma equipa de investigadores da NOVA Medical School e da Federação Portuguesa de Futebol, e o apoio do Comité Olímpico de Portugal, do Comité Paralímpico de Portugal e do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) um concurso da Agência Mundial Antidopagem para estudar a suplementação e o doping.

 

Ambição a 1 ano?

Quero investigar na suplementação e doping, no âmbito do projeto financiado pela Agência Mundial Antidopagem. O tema da atleta feminina também vai continuar a estar presente, nomeadamente com um estudo sobre a reação ao calor e as estratégias de “cooling”. Cada vez temos mais atletas femininas (nos últimos Jogos Olímpicos houve quase paridade com os homens) e temos a questão do aquecimento global por causa das alterações climáticas. Parece que a termorregulação da mulher pode ser diferente da do homem. Vamos tentar perceber se existem diferenças e quais as melhores estratégias.

Tendo em conta que estou em várias instituições, quero também promover a recolha de dados que possam ser traduzíveis para a pática clínica. Em agosto, estarei no Campeonato Europeu de Atletismo, em Munique, para implementar rótulos nutricionais nas refeições que serão servidas pela organização (a European Athletics) para que os atletas possam fazer escolhas mais informadas, com base na lista de ingredientes, na informação nutricional e alergénios, por exemplo, e de acordo com o seu calendário competitivo.

Ambição a 10 anos?

Gostava de manter esta ligação entre academia, investigação e prática clínica para fazer ciência aplicada. Gostava também de ir avolumando esta investigação em Nutrição no Desporto em Portugal. Neste momento, não conheço linhas de investigação específicas em Nutrição no Desporto, mas começamos a ter consórcios. Por exemplo, temos vindo a fazer investigação com a Federação Portuguesa de Futebol e vamos juntar os Comités e o IPDJ. É importante aproximar estas instituições para que a investigação nesta área tenha continuidade. É muito difícil chegar aos atletas de elite. Por isso, precisamos do apoio destas instituições e dos clubes.

Que vida para além da investigação, da docência e da prática clínica?

Os meus tempos livres são muito dedicados à minha família, ao meu namorado e à minha cadela. Faço desporto praticamente todos os dias, nomeadamente   yoga, pilates clínico, treino de força, natação e surf. Também costumo dançar latino-americanas e africanas. Tenho aulas há muitos anos e ia dançar com muita frequência. Agora já só faço natação de forma recreativa, para matar saudades.