Investigador, professor e nutricionista, Nuno Borges integrou o CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde desde os primórdios e é com naturalidade que integra a nova Unidade de Investigação RISE-Health, a maior do país.

Nascido no Porto, em 1966, licenciou-se, em 1989, em Ciências da Nutrição pela Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), onde começou a dar aulas, como monitor, na década de 1990, e onde atualmente é Professor Associado e presidente do Conselho Científico.

Após os cinco anos da licenciatura, fez o estágio académico no Hospital de São João (atual ULS São João), mais concretamente em Nefrologia, e desenvolveu atividade de investigação no Instituto de Farmacologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), onde se manteve até concluir o doutoramento em Biologia Humana, em 1995. Passou por diferentes instituições durante o seu percurso académico e profissional, entre os quais a Universidade do Kansas, nos EUA. Entre 1995 e 1998, trabalhou como investigador auxiliar na BIAL.

Em 1999, foi desafiado a ficar na FCNAUP, como professor, o que aceitou, tendo apenas abdicado da exclusividade para poder desenvolver atividade clínica como nutricionista, algo que considerou importante para o trabalho que viria a fazer. Integrou vários projetos científicos na área da Nutrição, sendo de destacar a sua participação no Nutrition UP65, financiado pelos EEA Grants, com o objetivo de reduzir as desigualdades nutricionais na população idosa portuguesa.

No CINTESIS, fez parte de dois grandes projetos: o Symbiotic technology for societal efficiency gains – Deus Ex Machina (DeM) e o ADHeart – Envolva-se com o seu coração: Promoção da adesão terapêutica com um sistema de telemonitorização para pessoas com insuficiência cardíaca crónica, em parceria com a Fraunhofer Portugal e instituições de ensino/centros de investigação.

Com uma coorte composta por mais de três centenas de doentes com insuficiência cardíaca, Nuno Borges e a sua equipa têm analisado um conjunto de parâmetros nutricionais e funcionais (funcionalidade muscular, composição corporal, força de preensão da mão, entre outros), o que tem resultado em artigos científicos e apresentações em reuniões científicas. O objetivo é perceber quais os doentes com insuficiência cardíaca que mais poderão beneficiar de determinadas intervenções.

Na FCNAUP, está envolvido num projeto, candidato a financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que explora a monitorização de diversos parâmetros em doentes hospitalizados com diferentes patologias.

“Vamos tentar expandir o âmbito de aplicação destes parâmetros que temos aplicado em doentes com insuficiência cardíaca, que são doentes frágeis e com comorbilidades associadas, o que lhes diminui a qualidade de vida”, explica.

A desnutrição é, como realça, um problema muito comum em doentes internados e não só. O rastreio nutricional está previsto em norma publicada pela Direção-Geral da Saúde, tendo sido alargado, em 2023, a todos os níveis de cuidados do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Pretende-se, assim, identificar precocemente os doentes que estão em maior risco de deterioração do estado nutricional e que poderão beneficiar mais de cuidados especializados, que vão desde o diagnóstico ao tratamento da desnutrição. No entanto, constata que “há uma certa assimetria, em Portugal, na implementação destas medidas, sendo tão mais implementadas quando se vai de Sul para Norte”.

Apesar dos avanços já registados, Nuno Borges sublinha que é possível fazer “muito mais” nesta área, quer a nível da investigação, quer, sobretudo, a nível da implementação na prática, designadamente a nível hospitalar. Os recursos humanos serão, neste ponto fundamentais, uma vez que, como no ditado, “sem ovos não se fazem omeletes”.

Relativamente ao RISE-Health, “é uma grande Unidade, que coloca oportunidades e desafios. As oportunidades são o acesso mais direto a uma grande rede de investigadores a nível nacional. Temos de nos focar nestas oportunidades e temos de avançar”.

Como investigador, Nuno Borges tem cerca de 90 artigos científicos publicados em revistas especializadas, focando-se essencialmente na interação entre fármacos e nutrientes, nomeadamente em idosos. Atualmente, é ainda Professor Associado Convidado da Universidade do Minho, onde ensina Nutrição aos futuros médicos. É editor da revista Acta Portuguesa de Nutrição e pertence à direção da Associação Portuguesa de Nutrição. Foi presidente da Comissão Científica do XXIII Congresso de Nutrição e Alimentação (CNA), que decorreu em maio de 2024, em Lisboa.

 

Ambição a 1 ano?

Na investigação, espero conseguir financiamento para o projeto de insuficiência cardíaca, o que iria permitir um grande “boom”. Temos muita prática e temos os investigadores, embora não tenhamos tantos investigadores novos como gostaríamos. É preciso investimento porque as pessoas não podem fazer este trabalho pro bono.

Ambição a 10 anos?

A minha ambição é, genuinamente, nesta fase da vida, deixar os projetos “a rolar” e permitir que os colegas que se seguem não tenham de partir de uma base tão baixa como nós partimos. Isto implica ter projetos a decorrer e ter “músculo” para poder ir buscar financiamento a outras fontes. Nisto, o CINTESIS é instrumental porque tem um nome estabelecido e uma estrutura. Na docência, é a mesma coisa: criar condições para que os que nos sucedem tenham sucesso.

Que vida para além da investigação, da docência?

Felizmente, a vida não é só trabalho. Gosto muito de ouvir música e de explorar o Portugal recôndito. Viajo sempre que posso a outros países, mas, no nosso país, vou muitas vezes de carro, com a minha bicicleta, e dou passeios que me ajudam a recarregar baterias (não musculares, mas emocionais). Tenho uma família ótima, duas filhas, os meus pais, que ainda estão bem. Isso é o essencial!