Uma equipa do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto criou o Pallium Game, um jogo de cartas colaborativo que pretende eliminar constrangimentos e potenciar a comunicação entre doentes, famílias e profissionais de saúde no contexto dos Cuidados Paliativos.

O jogo será disponibilizado de forma gratuita a todas as unidades e equipas de Cuidados Paliativos do país, numa parceria com outras entidades, como o Laboratório Angelini Pharma e a associação ADITGameS.

“Há dificuldades em iniciar este tipo de conversa e em abordar temáticas sensíveis. Então surgiu este desafio de criar um jogo de cartas no sentido de potenciar a comunicação através de um ambiente favorável à expressão de sentimentos e necessidades, explica Carla Sílvia Fernandes, coordenadora do projeto.

De acordo com o a investigadora do CINTESIS e professora da ESEP, uma das aspirações do jogo é romper a “conspiração de silêncio” que muitas vezes se estabelece nesta área e que impede a abordagem de temas sensíveis, muitas vezes considerados como verdadeiros tabus.

O Pallium Game pode ser jogado só com o doente, com o doente e a família ou só com a família. O jogo foi validado por peritos e foi previamente testado graças a uma parceria com a “We Care”, uma Unidade de Cuidados Paliativos situada na Póvoa de Varzim que “abriu as portas” à equipa de investigadores. A avaliação envolveu também a opinião dos profissionais de saúde envolvidos.

O jogo é composto por 93 cartas e iniciar-se com duas primeiras cartas, de “quebra-gelo”. Quem quiser iniciar o jogo irá escolher uma das áreas temáticas contempladas: o impacto da doença, o significado da doença, as crenças, a família e o suporte.

Podem ser abordadas questões sobre vivências e mudanças no percurso de doença, a religião, a espiritualidade, os medos, as preocupações e as necessidades. As respostas não são obrigatórias. Depois de pelo menos duas respostas, o jogo propõe várias intervenções, como, por exemplo, a expressão de desejos de vida.

“Nós utilizamo-lo em vários contextos, como o consultório ou à cabeceira do doente, para falar abertamente sobre determinados assuntos. E podemos aplicar o jogo em diferentes etapas e momentos da doença. Essa é outra vantagem”, indica Carla Sílvia Fernandes.

No final do jogo, diz, as pessoas sentem-se aliviadas por terem abordado aquelas temáticas. Apesar da grande carga emocional do desenvolvimento desta estratégia, o impacto nos participantes é muito positivo. As pessoas choram, verbalizam, expõe os seus sentimentos.

“Sinto-me aliviado”. “Nunca pude abordar estas temáticas”. “Este momento foi muito importante para mim”. Estas são algumas das reações dos doentes em Cuidados Paliativos que já jogaram o Pallium Game. São pessoas com doenças oncológicas, mas também com doenças degenerativas, com demência, entre muitas outras patologias, em diferentes fases, desde fases mais precoces a fases terminais.

Embora o lançamento do jogo só esteja oficialmente previsto pela ADITGameS para 9 de junho, a equipa tem uma série de iniciativas agendadas para os próximos três meses. A primeira dessas iniciativas será um Workshop sobre o Pallium Game, integrado nas IV Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa – Terapias “Out-of-the-box” em Cuidados Paliativos, que irá decorrer a 19 de março, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, e online. A organização do evento é da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa desta Sociedade (SPMI-NEMPAL).

O Pallium Game foi desenvolvido no âmbito do NursingGames – Capacitação de Profissionais, Pessoas e Familiar Cuidador com Estratégias Lúdicas, projeto integrado no CINTESIS e na ESEP – Escola Superior de Enfermagem do Porto, com a participação de Carla Sílvia Fernandes (coordenadora), Marisa Lourenço e Bruno Magalhães, Tânia Lourenço, Rita Figueiredo (do CINTESIS) e Belém Vale, aos quais se juntarão Odete Amaral e Sofia Campos.

Entretanto, estão já em curso outros projetos para desenvolvimento de jogos de saúde, particularmente “exergames” para a área da reabilitação, designadamente em doentes oncológicos.