Da saúde mental no envelhecimento aos direitos humanos, passando pela música e pelo desporto, são muitas as questões que o motivam e apaixonam. Pedro Machado dos Santos é, atualmente, investigador do CINTESIS, psicólogo clínico, consultor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS-UP), Consultor Internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS) e docente.
Nasceu e estudou em Lisboa, embora as suas origens estejam em Aveiro. A família tem uma longa tradição na Marinha (o pai, o avô e o bisavô foram Comandantes). Aliou sempre os estudos à música, tendo feito o curso oficial de música (8º grau do ensino articulado), onde tocava contrabaixo e piano. Na altura de escolher o curso superior, chegou a fazer provas para a Escola Naval. E entrou. Também fez provas para Música, com igual sucesso. Mas foi a Psicologia que o ganhou.
“Na altura, estava muito indeciso. O meu irmão seguiu engenharia e arquitetura naval, apesar de trabalhar agora na Fórmula 1. A minha mãe, sim, tinha estudado Psicologia e trabalhou sempre na reinserção social. Em casa, vivia esta dualidade muito interessante”, recorda.
Durante a Faculdade, fez parte da Estudantina Universitária de Lisboa, deu aulas de música ao segundo ciclo, num colégio do Ensino Especial e trabalhou também nas Relações Públicas da EXPO’98. Finalizada a licenciatura em Psicologia na Universidade de Lisboa, em 2000, fez estágio na Casa de Saúde de Idanha das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, onde haveria de regressar para definir a estratégia assistencial para integração na (prevista) Rede de Cuidados Continuados em Saúde Mental.
“Encontrei uma população que tinha envelhecido dentro das estruturas hospitalares. Interessava-me perceber como se envelhece com doença crónica e, em particular, com doença mental crónica. Além disso, venho de uma família em que os avós eram muito importantes. A relação entre avós e netos era muito natural e muito gratificante. Tive essa sorte. Nunca me foi estranho, pelo contrário, era um prazer, para mim, lidar com os mais velhos”, afirma.
Fez o Mestrado em Gerontologia Social – Qualidade de Serviços Gerontológicos pela Universidade Autónoma de Madrid, com estágios em diferentes centros espanhóis, frequentou o Mestrado Europeu em Gerontologia e, em 2010, concluiu o doutoramento no ICBAS, com a orientação de Rocío Fernández-Ballesteros e Constança Paúl, que o trouxe para o CINTESIS.
Especializou-se em situações de crise e catástrofe, tendo feito parte de uma equipa da Organização Não Governamental (ONG) Médicos do Mundo que esteve no norte do Sri Lanka a apoiar as vítimas do tsunami de 2004, no sudeste asiático. A região era fustigada por conflitos armados, com protagonistas como os “Tigres Tamil” e, além do mais, era palco de recrutamento da Al Qaeda. Confessa que chegou a temer pela sua vida.
Já em 2020, colaborou no desenvolvimento da linha de aconselhamento psicológico do SNS 24, bem como das linhas da Câmara Municipal da Lisboa e da Ordem dos Farmacêuticos, na sequência da pandemia de COVID-19.
Foi consultor da Direção de Serviços de Psiquiatria Saúde Mental e do Programa Nacional para a Saúde Mental (DGS) e, desde 2019, é Consultor Internacional da OMS, tendo sido selecionado para a elaboração do Plano Estratégico Nacional de Saúde Mental de Cabo Verde 2020-2024. É docente da Universidade Lusófona, com a qual colabora desde que terminou o doutoramento.
Noutro registo, participa ainda no projeto “Música nos Hospitais”, fundado pela pediatra e ex-ministra da Saúde Ana Jorge, no qual tem contribuído desde o seu início, em 2006, para a formação de músicos, numa perspetiva de humanização e melhoria da qualidade de vida de pessoas institucionalizadas por questões de saúde ou fragilidade social.
Como investigador do CINTESIS e consultor do ICBAS, é responsável pela assistência técnica à criação e implementação do Programa Municipal de Saúde Mental para a cidade de Lisboa. Está também a desenvolver um estudo, sobre o impacto da COVID-19 nos farmacêuticos, em conjunto com a Ordem dos Farmacêuticos e a Federação Internacional de Farmacêuticos (FIP), e mantém a coordenação de um estudo no âmbito da iniciativa “Amigos na Demência”, em articulação com a Alzheimer Portugal e a DGS, a propósito da perceção pública e da consciencialização relativamente a esta doença.
Ambição a 1 ano?
Espero terminar o Programa de Saúde Mental para Lisboa, que poderá contribuir para mudar a forma de olhar para a Saúde Mental nas grandes cidades. Espero que consigamos perspetivar mais a promoção da saúde e olhar para as pessoas para além da doença. Seria bom sentir que estamos a construir uma cidade para todos.
Ambição a 10 anos?
Quero continuar envolvido nas políticas de Saúde Mental com este registo multilateral de envolvimento e co-construção de iniciativas pelas várias partes interessadas, em particular pelos próprios beneficiados. Naturalmente, sempre na defesa incondicional dos direitos humanos.
Que vida para além da investigação?
Nos tempos livres, gosto de fazer música, com a minha família e com os meus amigos (tenho a sorte de muitos terem esta paixão e de alguns deles serem músicos profissionais). Gostava de continuar a fazer os concertos participativos, com Coros e Orquestras, pelo menos uma vez por ano.
A música sempre fez parte da vida e das dinâmicas familiares. O meu pai também tocava e tínhamos muitos momentos de partilha. Agora mantenho esta dinâmica com os sobrinhos e com os filhos, que tocam violino desde muito cedo. A interpretação musical é, para mim, uma questão afetiva.
Quero brincar mais! Sinto também falta do desporto e de jogar. Gosto particularmente do jogo em equipa. Jogava vólei, no Liceu. Há alguns anos, comecei a jogar golfe, mas nem sempre consigo encontrar tempo. Gostava também de andar mais à vela com os meus filhos e fazer outras coisas que fazia quando era miúdo e, naturalmente, não queria perder.