Aos 38 anos de idade, Pedro Pereira Rodrigues não é apenas um investigador do CINTESIS, mas uma presença constante na sede da Unidade de Investigação. Mas mesmo quem o conhece de perto talvez não saiba que começou por estudar Astronomia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Pretendia descobrir a explicação para o universo. Na prática, descobriu a mulher e mãe dos seus dois filhos. O curso, trocou-o pela Ciência de Computadores, outra paixão, mais antiga. “Comecei a programar e a fazer jogos quando andava na escola”, recorda.
Enquanto estudante, fez parte do Grupo de Fados e Guitarradas e foi dirigente associativo. Já então queria respostas para tudo. “Não gosto que as pessoas me digam que as coisas são de uma determinada forma sem uma explicação clara e plausível”, confessa. Terminado o curso, fez estágio na EFACEC em programação de redes neuronais para a previsão da carga elétrica, altura em que conheceu o professor João Gama, da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), que o orientou durante o mestrado e o doutoramento em “Learning from ubiquitous data streams”, na FCUP, com uma bolsa individual da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).
“O meu objetivo sempre foi fazer investigação e dar aulas na Universidade. Sempre quis a carreira académica porque me permitiria avançar no conhecimento e, ao mesmo tempo, ensinar. Estive sempre no ensino, primeiro como monitor e depois como assistente convidado na FCUP. Em 2008, surgiu a oportunidade de vir para a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”, afirma. Foi aqui que surgiu a apetência por modelos de diagnóstico e prognóstico de doenças com base em estatística Bayesiana, área em que tem desenvolvido investigação, nomeadamente no âmbito do projeto NanoSTIMA.
No grupo de investigação BioData – Biostatistics & Intelligent Data Analysis, dedica-se à investigação em métodos de estatística e análise inteligente de dados e às diversas aplicações destes métodos. “Este grupo tem funcionado como ponto de encontro para todos os investigadores do CINTESIS que queiram trabalhar na área da estatística ou ter feedback do seu trabalho do ponto de vista dos métodos. As nossas reuniões mensais estão abertas a quem queira participar e considere esta comunhão de interesses relevante”, afirma.
Atualmente, faz parte da comissão científica do Mestrado em Informática Médica (MIM), em cuja reformulação esteve envolvido, responsabilidade a que se junta a regência e coordenação das disciplinas de Investigação e Comunicação Científica e de Sistemas de Apoio à Decisão Clínica no MIM, de Bioestatística e Modelos Gráficos de Probabilidade no Programa Doutoral em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde (PDICSS), bem como a cocoordenação com outro investigador do CINTESIS, Mário Dinis Ribeiro, da unidade curricular de Bioestatística e Informação em Saúde II do 3º ano do mestrado integrado em Medicina, cuja criação, há dois anos, considera como um “momento de crescimento quer para o departamento, quer para o CINTESIS”.
Ambição para o próximo ano?
Do ponto de vista académico, o maior foco de atividade para o futuro é o projeto de Programa Doutoral em Health Data Science do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS), em parceria com o CINTESIS, já aprovado no Conselho Científico da FMUP e atualmente em discussão no Senado da U.Porto. O doutoramento reúne três momentos essenciais da investigação nesta área: a análise inteligente em dados de saúde, a informática na saúde e a tradução deste conhecimento em políticas de intervenção em saúde. O arranque está previsto para o ano letivo de 2018/2019.
Esta preocupação com a análise de dados em saúde é também a minha principal preocupação em termos de investigação. Existem muitas controvérsias sobre Data Science na investigação em saúde, como a possibilidade de reutilização de dados de saúde, a substituição dos antigos métodos de investigação pelos novos métodos de análise de dados e a questão da confiança dos vários intervenientes (indivíduos, investigadores e profissionais de saúde) na prossecução do bem público.
Este tem sido também o ponto forte das minhas discussões na Agenda para a Saúde da FCT, no qual sou relator no subtema Saúde Digital e Tecnologias Médicas. Esta Agenda é muito relevante porque parte de baixo para cima, ou seja, os investigadores estão a ser chamados a gerar recomendações sobre as áreas-chave de investigação para o futuro, ao contrário do que às vezes acontece com a indicação de cima para baixo de algumas “buzz words”. Por vezes, quem está no terreno nem se reconhece nessas áreas. Julgo que até ao fim do ano teremos uma Agenda que consolide as grandes linhas de investigação. Da minha parte o objetivo é que a área da saúde digital e das tecnologias médicas fique bem definida.
Do ponto de vista da investigação, pretendo ainda garantir que o projeto NanoSTIMA (Macro-to-Nano Human Sensing: Towards Integrated Multimodal Health Monitoring and Analytics) termina com sucesso, em 2018, ao mesmo tempo que se prepara o trajeto futuro dos investigadores e das linhas de investigação produzidas.
Ambição para os próximos 10 anos?
Pretendo consolidar aquilo que está feito. Espero, daqui a 10 anos, ter o Programa Doutoral em velocidade de cruzeiro, com edições regulares, investigadores e linhas de investigação novas na área. Espero que daqui a 10 anos o CINTESIS já seja autónomo, não só porque há oportunidades difíceis de alcançar com o modelo atual, mas também porque há problemas burocráticos que temos de resolver. Uma das prioridades tem de ser a sua autonomização, mantendo naturalmente a sua matriz associada à FMUP e restantes instituições que atualmente o integram.
Que vida para além da investigação e do ensino?
O meu tempo é passado com a família. Com dois filhos pequenos, não poderia ser de outra maneira. Também gosto de fazer astrofotografia. É algo que me dá tranquilidade e paz de espírito e, ao mesmo tempo, é um desafio muito próximo de um problema de investigação, pois é preciso pensar na melhor combinação de fatores para conseguir um objetivo particular. É um estímulo científico. A maior dificuldade é ter de me deslocar para fora da cidade por causa da poluição luminosa. Quando tenho tempo, também jogo golfe e toco um bocado de piano. Vou alternado os meus interesses, de forma autodidata.