CanCOG – Reabilitação Cognitiva no Cancro

O projeto CanCOG – Reabilitação Cognitiva no Cancro pretende disponibilizar uma plataforma digital de reabilitação cognitiva específica para sobreviventes de cancro, para melhoria das capacidades cognitivas. A intervenção é o resultado da adaptação cultural de um programa desenvolvido na University of California, Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos da América – o UCLA Cognitive Rehabilitation Intervention Program for Cancer Survivors –, que apresenta evidência de eficácia na diminuição das queixas cognitivas reportadas por esta população.

Este projeto está a ser liderado por uma equipa de investigadoras do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS.UA) e do William James Center for Research (WJCR.UA), surgindo de uma colaboração internacional com a UCLA. Conta, ainda, com a parceria de instituições de apoio ao doente oncológico e seus familiares, bem como de profissionais de saúde, nomeadamente o Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro e a Academia Portuguesa de Psico-Oncologia.

O comprometimento cognitivo associado ao cancro (cancer-related cognitive impairment) assume-se como um dos efeitos secundários adversos mais frequentes e preocupantes que os sobreviventes de cancro experienciam. Ainda que este comprometimento possa ser subtil, apresenta uma intensidade suficiente para interferir negativamente no funcionamento diário e na qualidade de vida, nomeadamente ao nível social, laboral e familiar.

O aumento da taxa de sobrevivência e do número de pessoas que vivem com os efeitos secundários adversos dos tratamentos para o cancro a longo prazo tem levado a uma necessidade crescente em identificar, desenvolver e testar intervenções que sejam eficazes em aliviar ou impedir o desenvolvimento de alterações cognitivas. A reabilitação cognitiva é considerada a intervenção de primeira linha para o comprometimento cognitivo associado ao cancro, demonstrando-se eficaz na melhoria do funcionamento cognitivo.

Foi neste contexto, da necessidade de desenvolver intervenções específicas para as queixas cognitivas reportadas por sobreviventes de cancro, que, em 2008, a equipa da UCLA iniciou o desenvolvimento e avaliação da eficácia do UCLA Cognitive Rehabilitation Intervention Program for Cancer Survivors. Este programa foi o produto de anos de experiência clínica e de investigação, estando atualmente a ser adaptado para disseminação enquanto intervenção acreditada para os hospitais nos Estados Unidos da América. O programa é constituído por cinco sessões e tem como base teórica a reabilitação cognitiva baseada na evidência, consistindo em psicoeducação sobre o funcionamento cognitivo e treino cognitivo com foco nas queixas mais comuns que os sobreviventes de cancro relatam: atenção (semanas 1 e 2), funções executivas (semana 3) e memória (semana 4); inclui, ainda, uma sessão de revisão e sistematização da informação (semana 5). Cada sessão tem uma duração aproximada de 2 horas e uma periocidade semanal, sendo constituída por estabelecimento de objetivos, ensino de estratégias compensatórias e exercícios de treino cognitivo para realizar na sessão e em casa.

Nos últimos tempos, as intervenções realizadas através da Internet têm emergido no campo da reabilitação cognitiva, podendo constituir-se como uma forma de intervenção potencialmente válida para os sobreviventes de cancro que experienciam alterações nas capacidades cognitivas. Desta forma, o CanCOG – Programa de Reabilitação Cognitiva Online no Cancro é o resultado da adaptação cultural portuguesa, em formato digital, do UCLA Cognitive Rehabilitation Intervention Program for Cancer Survivors.

Através de um trabalho colaborativo entre investigadores, clínicos e sobreviventes de cancro, o projeto de investigação CanCOG – Reabilitação Cognitiva no Cancro compreende três grandes objetivos ou fases:

1. Fase 1 – Tradução e adaptação cultural do UCLA Cognitive Rehabilitation Intervention Program for Cancer Survivors para Portugal, seguindo diretrizes internacionais para a adaptação cultural de intervenções baseadas na evidência.
2. Fase 2 – Desenvolvimento da plataforma digital, adaptando as cinco sessões presenciais que constituem o programa original para cinco módulos online – o programa CanCOG –, através da realização de focus groups com sobreviventes de cancro e especialistas. A usabilidade da interface e a experiência dos sobreviventes de cancro com o CanCOG serão igualmente testadas.
3. Fase 3 – Estudo de intervenção que pretende avaliar a eficácia do programa CanCOG na melhoria das capacidades cognitivas, de variáveis relacionadas com o trabalho e de indicadores psicossociais, em comparação com ausência de intervenção (condição de controlo).

Considerando que muitos sobreviventes de cancro reportam problemas cognitivos, provando-se eficaz, esta intervenção tem o potencial de providenciar reabilitação cognitiva e melhorar os cuidados prestados a esta população. Em última instância, este projeto visa disponibilizar uma ferramenta útil para profissionais de saúde que trabalham com sobreviventes de cancro. Os resultados deste projeto contribuirão para a investigação existente em tecnologias digitais aplicadas à reabilitação cognitiva e à saúde, ao mesmo tempo que se permite o acesso da população oncológica portuguesa a uma intervenção digital empiricamente validada para o comprometimento cognitivo associado ao cancro.

Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS.UA)

n/d

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Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT: SFRH/BD/138785/2018), Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS.UA: UIDB/4255/2020)

01/08/2019 a 30/09/2023 (50 meses)

Ana Filipa Oliveira, Isabel M. Santos, Ana Torres, Anabela Pereira, Sara Monteiro, Ana Cláudia Bártolo, Helena Mendonça Sousa, Rita Tavares, Milaydis Sosa Napolskij

http://cancog.web.ua.pt/