Os portugueses sobrestimam a importância das atividades médicas preventivas, tais como análises e exames, revela um estudo desenvolvido por uma equipa de investigação do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), publicado na reputada revista científica British Medical Journal Open (BMJ Open).
Desenvolvido por Luísa Sá e Carlos Martins, investigadores do CINTESIS, este é o primeiro estudo sobre a importância que os portugueses atribuem a diferentes atividades médicas de natureza preventiva, tendo avaliado mil portugueses com mais de 18 anos, através de entrevistas telefónicas.
Os resultados revelaram que para além de sobrevalorizarem a importância da realização de exames de diagnóstico como forma de prevenir o desenvolvimento de doenças, a população tende a desvalorizar o impacto que os hábitos e estilos de vida têm sobre a sua saúde. “Ou seja, os portugueses parecem valorizar mais a realização de análises de sangue todos os anos, do que o facto de deverem praticar exercício com regularidade, por exemplo”, explica Luísa Sá.
Da mesma forma, os inquiridos mostraram-se pouco informados sobre a relevância efetiva de diferentes tipos de exame de diagnóstico e pouco sensibilizados para a noção de que o risco não é igual para todos. “Neste estudo os portugueses atribuem tanta importância a certos exames médicos que não são recomendados preventivamente como a outros que o são. Por exemplo, atribuem importância semelhante à mamografia e à ecografia mamária”, acrescenta a médica.
Em média, os inquiridos atribuíram um grau de importância de 7,7 (numa escala de 1 a 10, sendo 1 “nada importante” e 10 “muito importante”) à importância da realização de atividades médicas preventivas, sendo a realização regular de análises de sangue e de urina a mais valorizada, com uma nota média de 9,15. Seguiram-se os exames clínicos ginecológicos, tais como o papanicolau, a mamografia e as ecografias ginecológicas e mamárias, com notas em torno dos 8,5. O aconselhamento médico relativamente ao consumo de álcool e tabaco, por exemplo, foram considerados muito menos importantes, reunindo uma classificação média entre os 5 e os 6 pontos.
Carlos Martins, que é também professor na Universidade do Porto, defende que “os médicos de família devem tomar consciência das elevadas expectativas que os pacientes depositam nos exames de diagnóstico realizados como medida preventiva, já que esta informação pode condicionar a relação médico-doente”.
“Frequentemente, os pacientes acham que os exames de rotina devem ser iguais para todos, como um “pack”. É importante que os pacientes compreendam que o médico efetua um aconselhamento individualizado para cada paciente e ao recomendar determinados exames fá-lo tendo em consideração a especificidade de cada pessoa, a sua história clínica e os seus fatores de risco, protegendo-a também de eventuais riscos de exames desnecessários”, esclarece.
Recorde-se que esta equipa de investigação esteve envolvida num trabalho de 2013 que concluiu que osportugueses acreditam que devem realizar mais exames médicos (e com maior frequência) do que o previsto pelas recomendações clínicas nacionais e internacionais e não estão a par dos riscos que correm quando os realizam.
Os resultados deste estudo vêm reforçar a importância de alertar a população nacional para o recurso mais criterioso aos exames médicos de rotina, pois o uso excessivo e desnecessário dos exames médicos também acarreta riscos para a saúde das pessoas.