Raquel Chaves é o rosto do polo na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) da Unidade de Investigação RISE-Health, constituída recentemente pelo CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e outras Unidades, e com sede na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Apaixonada pela investigação e pela docência, Raquel Chaves, que lidera a Escola das Ciências da Vida e do Ambiente da UTAD, é uma eterna curiosa, ávida de novas aprendizagens e experiências, sempre pronta a desbravar novos caminhos. Seguindo a estratégia do seu Reitor, Emídio Gomes, surgiu a oportunidade de integrar a nova Unidade. Uma oportunidade única para alavancar a aposta na investigação, na formação (Medicina poderá vir a juntar-se a outros cursos importantes nas áreas da saúde, como os já existentes de Genética, de Ciências Biomédicas, de Enfermagem, entre outros) e na geração de massa crítica.
“Surgiu a oportunidade e decidimos juntar-nos ao RISE-Health. Acredito que foi esta a altura certa. Somos um grupo de 18 pessoas com formações diferentes, mas todos com interesse na área da saúde, ciências biomédicas ou medicina. O objetivo é integrar uma rede onde possamos contactar com mais pessoas da área e com as quais possamos interagir e progredir. Agora sou RISE-Health da cabeça aos pés”, afirma a investigadora.
Nascida no Porto, mais concretamente em Massarelos, o trabalho do pai, bancário, levou-a para Vila Real, depois do ensino primário, mas regressou à cidade natal na juventude, para ingressar no ensino superior. Em 1992, concluiu a licenciatura em Bioquímica pela Universidade do Porto. A escolha surgiu de forma natural, pois sempre quis fazer investigação. Em criança, fechava-se na despensa, que transformava em laboratório, para fazer as suas experiências científicas com o que lhe ia parar à mão. Mas o seu sonho era a Genética desde que, ainda pequena, leu, por acaso, um livro intitulado “Os Meus Filhos Serão Clones”, se bem que, nessa altura, a clonagem humana não passasse de ficção científica. Foi esse livro que a inspirou a ser a profissional em que se tornou e a pessoa que é.
“Li aquilo e comecei a apaixonar-me por genes, genoma, cromossomas, células… Foi esse livro que me despertou o interesse. A partir daí, comecei a tentar perceber melhor e a minha paixão aumentou de dia para dia”, conta.
Perseguiu o sonho ingressando no Mestrado em Genética Molecular, na Universidade do Minho, tendo sido a primeira estudante a concluir a primeira edição. Desenvolveu a sua dissertação na área da genética das leucemias em idade pediátrica, tendo terminado em 1995. O tema era “difícil” e a investigadora confessa que foi algo “traumatizante”, na altura. “Acabei por fugir dessa área por algum tempo. Não tinha perfil para a parte médica. Sou muito emotiva”, confessa.
Mudou-se novamente para Vila Real e começou a exercer atividade como docente na UTAD, em 1998. Fez o doutoramento nesta Universidade (com diversas estadias no National Cancer Institute, nos EUA, e no Pathology College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido) em dezembro 2002, com uma tese sobre genoma e citogenética molecular em bovinos. Passou, nesse ano, a Professora Auxiliar. Em 2008, fez Agregação em Genética Molecular Comparativa e Tecnológica. Entre 2013 e 2023, foi Professora Associada e, desde 2023, é Professora Catedrática. Especialmente marcante foi ter contribuído para criar a Licenciatura em Genética e Biotecnologia. “A vida dá mesmo muitas voltas”, desabafa, lembrando que a Genética foi sempre o seu sonho. Atualmente na presidência da Escola de Ciências da Vida e do Ambiente da UTAD, continua, por vontade própria, a dar aulas e a desenvolver investigação fundamental em Genética. As suas grandes paixões são os cromossomas e as sequências não-codificantes que desempenham um papel nas alterações cromossómicas e nos genomas, no processo de formação de tumores e no aparecimento do cancro.
Com vários artigos científicos, livros e capítulos de livros publicados, além da participação em vários projetos como investigadora ou investigadora principal, Raquel Chaves está a iniciar projetos novos com o mesmo entusiasmo e ambição. “Considero-me uma privilegiada porque faço aquilo que gosto. Gosto muito de ensinar e de investigar. Às vezes é difícil conciliar, mas sinto-me realizada. Não concebo a minha vida profissional a fazer só investigação porque me dá um prazer muito grande lidar com as gerações mais jovens e transmitir-lhes a paixão que sinto pelo que investigo. O investigador deve ensinar o gozo da descoberta. Há quem ache que publicar papers é que é o máximo. Eu, não. O que me motiva é saber como as coisas funcionam. E tenho esperança que, um dia, aquilo que faço possa ser aplicado”, conclui.
Ambição a 1 ano?
Tenho muitos objetivos profissionais. Gostava de fortalecer a minha Escola, continuando a contar com todo o apoio do meu Reitor. Após o encerramento dos meus últimos projetos, quero entrar numa nova fase, em termos de investigação, dando continuidade sobre a utilização de sequências não-codificantes, mas agora como biomarcadores no diagnóstico de cancro. Outra linha de investigação que pretendo continuar a desenvolver tem a ver com a etiologia de determinados rearranjos cromossómicos, nomeadamente as translocações, que são as alterações cromossómicas mais comuns nos humanos e que estão envolvidas em diversas patologias. Iremos suportar todo este trabalho de investigação em linhas de financiamento tendo em vista a continuação da investigação.
Além disso, vamos abrir um laboratório para prestação de serviços em genética (Genetics4U, na UTAD), que servirá não só a comunidade científica, mas também a comunidade em geral, e que, naturalmente estará associado ao RISE-Health.
Ambição a 10 anos?
Gostaria muito que o laboratório Genetics4U conseguisse ser autónomo na sua missão. Em termos de investigação, gostaria que os temas que estou a estudar dessem frutos, de modo a percebermos melhor como determinadas sequências não-codificantes atuam na divisão nuclear e no processo de tumorogénese. Mas surgirão sempre mais questões que respostas. Caso contrário, seria sinal que não tinha feito bem a minha investigação.
É reconfortante e muito recompensador saber que alguns dos meus ex-alunos têm já posições nas áreas da investigação e académicas, com carreiras já muito relevantes. Isto é “deixar escola”.
Que vida para além da investigação e da docência?
Atualmente sobra muito pouco tempo livre, fruto das responsabilidades assumidas. Não estou a queixar-me, foi uma opção. Tenho a vida que escolhi. Os meus tempos livres são dedicados à família, aos meus dois filhos. A minha filha já é médica, encontrando-se, neste momento, a fazer a especialidade de Patologia Clínica, e o meu filho está em idade escolar. Procuramos fazer programas em família, como ver filmes, passear, ouvir música e ir a concertos. Mas gostava de ter mais tempo livre para ler, até porque os livros permitem abrir os meus horizontes.
Foto: UTAD