Rúben Fernandes é investigador da nova Unidade de Investigação RISE-Health, nascida da fusão do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde com a UnIC – Unidade de Investigação e Desenvolvimento Cardiovascular, também na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), o MedInUP – Centro de Investigação Farmacológica e Inovação Medicamentosa e o CICS-UBI – Centro de Investigação em Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior.
Nascido em Santo Ildefonso, no Porto, no dia 23 de agosto de 1976, é investigador na área da Biomedicina, tendo-se especializado em metabolismo do cancro e nanomedicina. Atualmente, integra o grupo de investigação Personalized Medicine, da Linha Temática 4 – Hospital Care & Clinical Outcomes do RISE-Health, e é Professor Catedrático da Universidade Fernando Pessoa, onde é o Diretor do Centro de Estudos Clínicos do Hospital-Escola Fernando Pessoa e coordenador da unidade que funde com o RISE, o FP-BHS (Biomedical and Health Sciences Fernando Pessoa).
Quando era criança, adorava desenhar. Até aos 14 anos, era capaz de desenhar retratos dos colegas de escola. Tinha aptidão para as Artes, mas, curiosamente, sonhava ser engenheiro genético. O percurso até à decisão da área científica que iria seguir foi “penoso”. Esteve convencido de que iria para Arquitetura. Um livro trocou-lhe as voltas. Nas férias em tinha de decidir, leu “Mutação” de Robin Cook (escritor e médico), que aborda a manipulação genética e as “quimeras” bem antes do aparecimento da ovelha Dolly e da clonagem.
Acabou por fazer o bacharelato em Anatomia Patológica, em 1997 na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto (ESS-IPP). Com apenas 21 anos, começou a investigar em citogenética do cancro, no IPATIMUP, onde esteve dois anos e onde conheceu o diretor do RISE-Health, Fernando Schmitt. Passou pelo Laboratório de Citogenética Médica do ICBAS e pelo IBMC – Instituto de Biologia Molecular e Celular. Fez licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), enquanto trabalhava (2008-2013). Logo a seguir, agarrou oportunidade de fazer o doutoramento em Bioquímica na Universidade de Vigo, tendo obtido o grau em 2008.
Esteve cerca de 20 anos na ESS-IPP, sempre ligado ao Ensino e à Investigação, sobretudo em biotecnologia e metabolismo do cancro, designadamente em condições de obesidade, tendo descrito um processo metabólico pela primeira vez a nível mundial, o efeito de Warburg Inverso. Ali desempenhou vários cargos, foi professor adjunto e criou o Laboratório de Biotecnologia Médica e Industrial (LaBMI). Na pandemia de COVID-19, esteve à frente da resposta a centenas de milhares de utentes, com testes rápidos e moleculares ao vírus SARS-CoV-2.
Mudou-se para a Universidade Fernando Pessoa, competindo-lhe coordenar o grupo de investigação em Saúde da UFP e, agora, fazer a transição dessa massa crítica para a nova Unidade RISE-Health, onde está distribuída por seis Linhas Temáticas. “Temos investigadores que já pertenciam ao CINTESIS. Foi uma transição natural. Até agora, o feedback que eu tenho tido é bastante positivo. As perspetivas são muito interessantes. Eu sou também um entusiasta, deixei-me contagiar pelo entusiamo da minha Universidade”, afirma.
Pessoalmente, diz que apanhou “um barco que já tinha saído do porto”. Foi “um tiro no escuro porque estava a chegar e a começar a conhecer a comunidade e era preciso criar uma estratégia que ligasse três escolas de saúde (Escola Superior de Saúde (Politécnico), Faculdade de Ciências da Saúde e a Escola de Medicina e Ciências Biomédicas), bem como a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais através da área de Psicologia e a Faculdade de Ciências e Tecnologia” através do seu Doutoramento de Saúde Ambiental.
Adepto incondicional do trabalho em equipa e com humildade suficiente para delegar, confessa que é a dar aulas que mais se realiza. “Eu amo o ensino, amo os estudantes. É nos estudantes que eu encontro as respostas. Sou muito curioso. Tento perceber o constructo intelectual que leva um estudante a fazer uma pergunta dita disparatada ou ao lado. Aí está a abordagem disruptiva, aí está o caminho para pensar fora da caixa”, remata.
Na sua ligação com a sociedade, tem estado envolvido em várias organizações académicas e profissionais, tais como a Fundação Portuguesa de Cardiologia, (Delegação do Norte), Associação Portuguesa de AVC, Sociedade Portuguesa de Diabetologia, entre outras, participando em diversas iniciativas.
Ambição a 1 ano?
Neste momento, a minha tarefa como investigador é unir, fazer pontes, consolidar a estratégia, o embrião do qual o RISE-Health foi o maior catalisador. Agora tenho de fazer o parto desta criança, que ainda terá as suas dores de crescimento. Isto significa consolidar os grupos que estão a aparecer. Precisamos de capitalizar os recursos instrumentais e financeiros. Temos de saber dar resposta à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e à A3ES – Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, temos de saber demonstrar solidez em diversas áreas, o que é um desafio hercúleo. Temos de ser unos na diversidade. Estamos todos no mesmo barco.
Ambição a 10 anos?
Estarei a pensar na reforma (risos). Não consigo prever. O meu percurso mostrou-me que, de dois em dois anos, tudo muda. Vamos ter de ver as áreas em que somos mais fortes, potenciá-las e reforçá-las.
Vida para além da investigação?
Com o corre-corre do dia a dia e a abundância de tarefas diárias, especialmente a atualização do email, é difícil ter muito tempo livre. No entanto, sempre que posso, gosto de me atualizar com algumas séries ou filmes nas plataformas de streaming. Quando tenho mais tempo disponível, gosto de viajar e relaxar a ler um bom livro.