Sara Monteiro é investigadora integrada do grupo AgeingC, da Linha Temática 1 – Medicina Preventiva & Desafios Societais, do CINTESIS, dedicando-se em particular à área da Psico-Oncologia.

Nasceu em 1979 e cresceu numa pequena aldeia chamada Caldas da Felgueira, em Nelas, Viseu, onde estudou até ao 12º ano. Sempre gostou de várias disciplinas, de diferentes áreas científicas, caracterizando-se como uma pessoa curiosa. O interesse pela Psicologia surgiu apenas no ensino secundário. Tinha 17 anos quando entrou na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, tendo realizado a licenciatura em Psicologia, pré-Bolonha, com área de especialização em Psicologia Clínica Cognitivo-Comportamental. Exerceu a sua atividade como psicóloga clínica num conjunto de instituições de saúde. Fez voluntariado num hospital de Coimbra e colaborou, também como voluntária, com a Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC).

Em 2006, concluiu o mestrado em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. “A par das boas classificações, sempre gostei muito de estudar e tinha uma grande curiosidade pelo campo da investigação. Foi uma experiência muito enriquecedora. Aprendi imenso”, lembra.

Foi ainda durante o mestrado que surgiu a oportunidade de avançar para o doutoramento, na Universidade de Aveiro (UA), que terminaria em 2008, com uma bolsa da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Esteve mais um ano na UA com uma bolsa de pós-doutoramento da FCT.

“Tive a possibilidade de colaborar como Assistente de Investigação num projeto da Universidade de Aveiro e fui muito incentivada a prosseguir para doutoramento. O projeto de investigação era centrado na promoção do sucesso académico no contexto do ensino superior, numa perspetiva ampla, tocando áreas como a promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida dos estudantes universitários”, conta.

Em 2009, ingressou na carreira docente, numa fase inicial como Assistente Convidada e, a partir de 2010, como Professora Auxiliar Convidada da Universidade de Aveiro, onde se mantém até hoje. É também Professora Auxiliar na Universidade Aberta desde 2021.

Como investigadora do CINTESIS há cerca de uma década, o seu balanço é muito positivo. “Tem sido uma experiência ótima, uma experiência muito enriquecedora, pela natureza interdisciplinar do Centro e pelo facto de ter um conjunto muito alargado de investigadores de diferentes áreas afins. Isso permite-nos ter contacto com um conjunto de investigadores e de instituições que provavelmente de outra forma não teríamos ou teríamos de forma mais dificultada”, afirma. Na U&D, destaca a “dinâmica da Comunicação, que é muito importante em ciência” e que “nem todos os centros têm tão desenvolvida”.

Relativamente aos seus interesses de investigação, estes têm incluído processos de ajustamento psicológico individual e familiar em contextos normativos e de risco, com destaque para a doença oncológica; o desenvolvimento e avaliação da eficácia de programas de intervenção psicológica; e o desenvolvimento e validação de instrumentos de avaliação psicológica.

Nos últimos anos, tem-se dedicado a estudar, em particular, as preocupações reprodutivas das mulheres jovens sobreviventes de cancro da mama e de que forma estas preocupações influenciam o seu ajustamento psicológico. A investigadora está igualmente interessada em perceber a forma como os serviços de saúde tratam as preocupações reprodutivas das mulheres jovens com diagnóstico de doença oncológica, bem como dos seus parceiros.

“Esta é uma área que nos é muito querida. O cancro acontece, cada vez mais, em idades jovens. Muitas destas mulheres vêm os seus projetos de vida, especificamente os relacionados com a maternidade, interrompidos com o diagnóstico de uma doença oncológica. Com o adiamento do nascimento do primeiro filho, que acontece por motivos pessoais e profissionais, muitas vezes esse projeto de maternidade é interrompido quando nem sequer há um primeiro filho”, sublinha.

A investigadora está igualmente interessada em perceber a forma como os serviços de saúde tratam as preocupações reprodutivas das mulheres jovens com diagnóstico de doença oncológica.

“Quando existe um diagnóstico de doença oncológica, há uma grande preocupação em assegurar os tratamentos no menor tempo possível para garantir a sobrevivência da pessoa. É esse o objetivo principal. Por vezes, os eventuais planos de parentalidade, nessa fase, podem parecer secundários, quer à equipa profissional que presta cuidados, quer à própria pessoa que foi diagnosticada com uma doença grave e ameaçadora”, observa.

Acredita que há cada vez mais atenção e que os serviços de saúde estão cada vez mais habilitados a, com a tranquilidade possível numa situação destas, prestar os esclarecimentos necessários à pessoa, para que esta tome uma decisão ou partilhe da tomada de decisão de forma fundamentada, mas não ignora que podem subsistir algumas dificuldades.

“Infelizmente, ainda acontece que muitas mulheres chegam ao fim dos ciclos de tratamentos sem terem uma noção exata das consequências que estes podem acarretar para a sua saúde reprodutiva. Só então é que por vezes percebem que terão dificuldade em ter filhos. Isto não significa que as suas opções não tivessem sido as mesmas, se lhes tivesse sido prestada mais informação, mas a ideia de fazer parte da decisão é muito importante para o processo de aceitação. É fundamental ajudarmos não só as mulheres, mas também os homens. Esse é um campo que queremos seguir daqui para a frente. É fundamental acompanhar os casais numa tomada de decisão fundamentada”, alerta.

Outra linha de investigação em que participa incide na compreensão da capacidade para o trabalho nos sobreviventes de doença oncológica, bem como dos prestadores de cuidados, muito concretamente dos cuidadores familiares. Este tema assume cada vez maior importância devido ao crescente número de sobreviventes oncológicos.

“Estamos interessados em saber de que forma os sobreviventes se adaptam ao seu trabalho na fase pós-doença. O regresso ao trabalho é um marco muito importante para os sobreviventes de cancro em idade ativa. Para muitos, este é o marco de cura e, mesmo que não o seja, é o regresso à normalidade”, realça.

Por outro lado, “queremos conhecer a capacidade para o trabalho nos cuidadores informais, que muitas vezes são familiares, nomeadamente cônjuges e pais que têm de deixar de trabalhar para prestar cuidados. Quando o cancro acontece, impacta não apenas o doente, mas toda a família. Pode haver necessidade de uma reorganização profissional dos cuidadores informais”.

“Gostaríamos de continuar a desenvolver esta área de investigação, de forma mais sustentada. Neste momento, esta linha de investigação ainda não está a ser financiada. Um dos objetivos para os próximos anos seria precisamente conseguir financiamento para este projeto. Sabemos que a obtenção de financiamentos é uma dificuldade que não é exclusiva da nossa área. Felizmente, ao longos dos últimos anos, temos contado com alguns projetos financiados no âmbito de bolsas de doutoramento e temos conseguido assim dinamizar e constituir um grupo. Ainda assim, é claro que gostaríamos que esse financiamento fosse maior”, afirma.

Sara Monteiro tem atualmente vários artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais especializadas e é autora de vários capítulos e livros.

Ambição a 1 ano?

Gostaria muito de desenvolver um projeto de ajustamento psicológico de casais à doença oncológica, a partir de uma perspetiva diádica. Ao mesmo tempo que investigamos o ajustamento psicológico de cada um à doença e as preocupações reprodutivas individuais, queremos também perceber de que forma, em díade, os cônjuges se impactam um ao outro. Esquece-se muitas vezes o parceiro. Adicionalmente, sabemos que o recrutamento dos parceiros  é extraordinariamente difícil. Encontramos uma menor disponibilidade e menor abertura para falar. Também por isso o assunto assume outra importância.

Ambição a 10 anos?

Gosto muito do que faço. E, por isso, se daqui a 10 anos puder estar a fazer o que faço hoje, sentir-me-ei feliz e realizada. Dito isto, se puder consolidar ainda mais as linhas de investigação nas quais tenho investido, se conseguir obter financiamento para os projetos de investigação que pretendo desenvolver, e assim aumentar a equipa de investigação e fortalecer redes de colaboração internacionais, penso que o sentimento de realização será ainda maior.

Que vida para além da docência, da clínica e da investigação?

Gosto muito de passar tempo em família,  passear ao ar livre,  fotografar, ir à praia e viajar.