Tem sido um dos nomes mais falados nas últimas semanas. Mário Dinis Ribeiro, Investigador Principal do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, diretor do Serviço de Gastroenterologia no Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto) e Professor Catedrático Convidado da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), recebeu das mãos do Presidente da República o Prémio Bial de Medicina Clínica pelo seu trabalho na área do cancro.
“Confesso que não estava à espera. A visibilidade foi surpreendente. Recebi o prémio como um sinal de reconhecimento do que temos vindo a fazer nos últimos 20 anos em cancro gástrico e endoscopia digestiva alta e também como um alento e um desafio para o futuro” reage o investigador, considerado de referência na sua área.
Nasceu em Moçambique, em 1973, mas foi em Guimarães, terra natal do pai, que cresceu. É o mais novo de três irmãos (a irmã mais velha é médica e o do meio é arquiteto). Sempre quis ser investigador, mas podia muito bem ter sido matemático, engenheiro informático ou químico. Tinha 17 anos quando ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), inspirado pela irmã mais velha. Marcaram-no a passagem pela escola médica de Amesterdão, cujo modelo tem seguido, e a bolsa de jovem investigador com Altamiro da Costa Pereira e João Bernardes, que lhe abriu as portas à investigação clínica.
Fez sempre o percurso clínico e o percurso académico em paralelo. Em 1995, ainda como aluno, já era docente voluntário na área da Bioestatística e Informática Médica da FMUP. Optou pela especialidade de Gastrenterologia (1999-2003) pela componente clínica, mas também pela expectativa de mudança, de maior acesso à inovação e da possibilidade de investigação. Fez o doutoramento entre 2001 e 2005. Foi diretor do Internato Médico do IPO-Porto de 2006 a 2013. É diretor do Serviço de Gastrenterologia do IPO-Porto desde 2014, além de docente do Departamento de Medicina da Comunidade, Informação e Decisão em Saúde (MEDCIDS) e membro do Programa Doutoral em Investigação Clínica e Serviços de Saúde (PDICSS) da FMUP.
Na sua opinião, aliar a clínica à investigação só tem vantagens. “A prática clínica faz as perguntas, mais perguntas do que aquelas a que consigo responder. Por outro lado, acredito que um médico, por ser investigador, não é claramente um pior médico, mas é provavelmente um melhor médico. Não podemos generalizar, mas todas as estruturas deveriam ter investigação. Esse é um objetivo que ainda não está concretizado a nível nacional”, afirma.
Membro do CINTESIS desde a primeira hora, Mário Dinis Ribeiro é, desde 2013, coordenador do grupo de investigação iGO – Health Technology Assessment in Gastrointestinal Oncology e, desde 2018, Investigador Principal da Linha Temática 2 – Investigação Clínica e de Translação, responsabilidade que exerce com verdadeiro “espírito de missão”.
O iGo constitui uma rede ímpar na área da investigação de translação que reúne investigadores de diferentes instituições em todo o país, constituindo-se como um parceiro importante e com capacidade de recrutar um largo número de doentes para estudos científicos multicêntricos, destinados a avaliar diferentes outcomes de tecnologias novas e disruptivas nas áreas do “screening”, diagnóstico e da abordagem do cancro gastrointestinal.
“Já somos reconhecidos pelos doentes e pelo treino de médicos. Queremos agora dar o salto e traduzir isso em termos de benchmarking, conseguindo que o grupo suba o seu fator de impacto e atingir projetos com maior financiamento para mostrar que é possível ter um serviço que serve os doentes em primeira instância e que também treina profissionais e faz investigação clínica. Para mim é fulcral que os hospitais, nomeadamente os hospitais universitários, tratem doentes, mas que façam formação e contribuam para o conhecimento”, refere.
Líder de projetos interinstitucionais, nacionais e internacionais, e autor de cerca de 200 artigos científicos, alguns publicados nas mais impactantes revistas científicas ligadas à Gastrenterologia, Mário Dinis Ribeiro tem ainda desempenhado funções de coordenação em sociedade científicas, sendo o atual presidente da Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva e presidente eleito da Sociedade Europeia de Endoscopia Digestiva, cargo que assume em pleno a partir do próximo mês de abril.
A 1 ano
Os meus objetivos a breve prazo passam por terminar o processo de renovação do serviço clínico e tentar cumprir uma fase de transição dentro do CINTESIS, dentro do grupo de investigação, e a nível académico.
A 5 anos
Manter o cuidado que prestamos aos doentes, do ponto de vista clínico; tentar que os profissionais que trabalham comigo se sintam recompensados e motivados; aumentar o fator de impacto das nossas publicações, conseguir financiamento para os nossos projetos e congregar esforços.
Vida para além da investigação
Tento ter tempo de qualidade com os amigos e com a família e tento ter tempo para mim. Gosto de ver filmes, de passear em família (alargada e estrita, leia-se esposa), de desenhar e de pintar.