Um estudo do e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde/Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) identificou padrões regionais consistentes na incidência de infeções adquiridas nos hospitais portugueses ao longo de quatro anos.
A equipa, encabeçada por Hugo Teixeira, investigador do CINTESIS, concluiu que Portugal registou, entre 2014 e 2017, um total de 318 mil episódios de hospitalização com pelo menos uma infeção hospitalar. 16% dos doentes internados morreram durante a sua estadia no hospital.
Intitulado “Spatial Patterns in Hospital-Acquired Infections in Portugal (2014-2017)” e publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health, o trabalho descreve os padrões espaciais das infeções hospitalares em crianças, adultos e idosos, nomeadamente infeções relacionadas com o uso de cateter central, infeções intestinais por Clostridium difficile, pneumonia adquirida em contexto hospitalar, infeções do local cirúrgico e infeções do trato urinário. Para isso, a equipa de investigação recorreu a uma metodologia assente na utilização dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG), que podem contribuir para uma melhor vigilância das infeções hospitalares.
A região Centro foi a que apresentou sistematicamente as taxas mais altas de internamentos por infeções hospitalares. O Sul foi a região que apresentou taxas mais baixas. As disparidades geográficas mantiveram-se ao longo dos anos analisados e independentemente da idade dos doentes.
De acordo com os autores, “as infeções hospitalares não estão distribuídas aleatoriamente no espaço, uma vez que os clusters de alto risco foram observados sempre no Centro do país. Estes resultados podem ser úteis para apoiar novas e melhores políticas de saúde, bem como para promover uma revisão das orientações dos Comités de Controlo de Infeção”, avisa o investigador do CINTESIS, que concluiu recentemente o doutoramento em Investigação Clínica e Serviços de Saúde na FMUP.
A mediana de permanência no hospital foi de 9 dias. As pneumonias foram a infeção hospitalar mais frequente. O pico ocorreu em 2015, com 81.690 casos. Nesse ano, este tipo de hospitalizações representou quase 10% do total.
Os idosos foram o grupo etário com mais hospitalizações por infeções hospitalares em Portugal, representando 77% do total. Os adultos (entre os 19 e os 64 anos) representavam 18% e as crianças, apenas 4,7%. A duração do internamento também é superior entre os idosos. A mediana de dias de internamento varia entre os seis dias para os jovens e os 10 dias para os adultos e para os idosos.
As infeções hospitalares são o evento adverso mais frequente associado aos cuidados de saúde, resultando em internamentos prolongados e em elevada mortalidade a nível mundial. Face ao aumento das infeções hospitalares, o investigador da FMUP entende que as técnicas assentes em Sistemas de Informação Geográfica devem ser “replicadas noutros hospitais” para identificação precoce de padrões, tendências ou clusters de infeções, permitindo assim “acionar as equipas” e “aumentar a segurança dos doentes”.
O trabalho de Hugo Teixeira foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), tendo contado com a participação de outros investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, nomeadamente Alberto Freitas, António Sarmento e Hernâni Gonçalves, bem como com Paulo Nossa, da Universidade de Coimbra, e Maria de Fátima Pina, da Fundação Oswaldo Cruz/Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, no Brasil.