Investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) propõem uma estratégia alternativa que permite obter uma maior eficácia na desinfeção das instituições de saúde contra bactérias, vírus e fungos altamente patogénicos.
Com coordenação de Acácio Rodrigues, professor da FMUP e investigador do CINTESIS, este grupo de cientistas analisou e provou, pela primeira vez, a eficácia da nebulização com peróxido de hidrogénio sobre biofilmes produzidos pelos microrganismos infeciosos mais frequentes no contexto dos cuidados de saúde.
Estes biofilmes são uma espécie de “película” através da qual os agentes infeciosos aderem, crescem e podem persistir nas superfícies mesmo após estas serem limpas, tornando-se resistentes aos fármacos antimicrobianos (vulgo, antibióticos), mas também aos próprios detergentes, sobrevivendo aos protocolos de limpeza habituais.
De acordo com o artigo publicado no Journal of Hospital Infection, a equipa comparou o efeito de um ciclo rápido de nebulização com peróxido de hidrogénio (H2O2) durante 15 minutos com um ciclo standard de uma hora na desinfeção de superfícies hospitalares infetadas e na eliminação daqueles biofilmes.
O estudo da FMUP incidiu sobre diferentes tipos de superfícies existentes nos hospitais, designadamente fórmica, aço inoxidável, linóleo, couro/napa e PVC, infetadas com microrganismos como Staphylococcus aureus, Candida albicans, Klebsiella pneumoniae ou Acinetobacter baumannii. Estes agentes, entre outros, são responsáveis pelo desenvolvimento de infeções hospitalares, pelo aumento do número de hospitalizações, da morbilidade e mortalidade e das despesas em saúde.
Os investigadores demonstraram a eficácia da tecnologia de nebulização de peróxido de hidrogénio sobre os biofilmes produzidos por esses microrganismos infeciosos em ambientes hospitalares e sugerem que “a eficácia pode ser maior se a nebulização atuar sobre esses biofilmes logo no início do processo da sua formação. Atualmente, a limpeza manual precede sempre a nebulização, método que pode não ser o mais adequado para controlar a colonização ambiental”.
Além disso, concluiu-se que, em ambos os ciclos de nebulização, a eficácia da desinfeção é muito similar. “O ciclo rápido de 15 minutos provou ter uma eficácia semelhante ao ciclo normal, de uma hora. Saber isto pode ser muito útil em “cenários reais”, explicam os cientistas, que anteveem as vantagens da implementação de protocolos de desinfeção/limpeza mais céleres.
“Os nossos resultados suportam fortemente a adoção de ciclos mais rápidos de nebulização com peróxido de hidrogénio nos protocolos de rotina de desinfeção nas instituições de saúde, de modo a melhorar a desinfeção, promover a segurança dos doentes e diminuir os custos associados às infeções hospitalares”, afirmam.
Financiado pelo FEDER e cofinanciado pelo COMPETE 2020, Portugal 2020 e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), este trabalho tem como autores Luís Cobrado, Patrícia Ramalho, Elisabete Ricardo, Ângela Rita Fernandes, Maria Manuel Azevedo e Acácio Gonçalves Rodrigues.