Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)/CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde defendem a implementação de um “Programa Nacional de Rastreio de Clamídia” em Portugal, incluindo novos métodos de deteção e controlo desta doença, considerada atualmente “um problema de saúde pública”.
“A clamídia é uma das infeções sexualmente transmissíveis mais comuns, mas não dá sintomas em cerca de 80% dos casos, o que aumenta o risco de transmissão. Em Portugal, ainda não existe um programa de rastreio, ao contrário do que acontece noutros países”, alerta Nuno Vale, professor da FMUP e investigador do CINTESIS.
O coordenador do estudo “Chlamydia trachomatis as a Current Health Problem: Challenges and Opportunities”, publicado na revista científica Diagnostics, considera que os próprios serviços de saúde não estão sensibilizados para este problema, recorrendo a métodos convencionais (as culturas), com tempo de espera e “baixa sensibilidade”, o que resulta em muitos falsos negativos, subdiagnóstico e falta de tratamento.
Embora seja curada com antibióticos, a infeção provocada pela bactéria Chlamydia trachomatis, quando não é tratada, pode resultar em graves sequelas nos órgãos reprodutores, incluindo, nas mulheres, dor crónica, doença pélvica inflamatória e infertilidade. A doença está também associada a tumores ginecológicos (cancro do colo do útero) e à transmissão da grávida para o bebé. No homem, as consequências mais graves incluem doenças da próstata e também infertilidade.
“Na ausência de uma vacina, a solução deve passar pelo rastreio de mulheres e homens sexualmente ativos e assintomáticos. Em vez do método tradicional de cultura, que é complexo e pode demorar vários dias, as tecnologias de amplificação do ácido nucleico são mais rápidas e mais sensíveis, detetando a bactéria em cerca de 98% dos casos”, explica.
Quanto ao custo-efetividade, Nuno Vale defende que “fica muito mais caro não tratar estas infeções, quer a nível financeiro (custos com cuidados de saúde, por exemplo), quer a nível social”.
Nos últimos anos, vários países, nomeadamente Inglaterra, Austrália, Países Baixos e Suécia, implementaram programas nacionais de rastreio de infeções por clamídia em mulheres até aos 25 anos, com resultados que os autores sublinham neste estudo, designadamente a nível da redução de custos.
No futuro, os investigadores apontam para a necessidade de estudar a prevalência e incidência da infeção por clamídia no nosso país, bem como de desenvolver campanhas de prevenção e sensibilização sobre os fatores de risco. Em 2020, a Organização Mundial de Saúde estima que tenham ocorrido 129 milhões de novas infeções.
Este estudo tem como autores Rafaela Rodrigues e Nuno Vale, da FMUP e CINTESIS@RISE, e de Carlos Sousa, da Unilabs, e foi apoiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do COMPETE 2020.