“As mulheres jovens têm um baixo conhecimento sobre o cancro do colo do útero”, revela um estudo coordenado por Paulo Santos, investigador do CINTESIS@RISE/Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Neste trabalho publicado no Frontiers in Public Health, os investigadores questionaram 270 jovens mulheres seguidas num centro de saúde de Vila Nova de Gaia, na região Norte, com idades compreendidas entre os 18 e os 30 anos, no que respeita a este tipo de cancro potencialmente evitável através de medidas ao alcance de todos.
“Este estudo revela uma baixa consciência das causas e sintomas do cancro do colo do útero entre as mulheres. Apenas 10% das mulheres apresentaram um bom conhecimento sobre as causas e os sintomas desta doença”, concluem.
Mais de 20% das mulheres não reconheceram a infeção pelo Papilomavírus humano (HPV) como causa deste tipo de cancro. Cerca de 82% apontaram o sistema imunitário enfraquecido e 85,9% indicaram a falta de rastreio ou o rastreio irregular como as principais causas.
Além disso, entre 36% e 50% das mulheres não identificaram corretamente os sintomas suspeitos, tais como hemorragia e corrimento vaginal, dor pélvica e dor durante as relações sexuais, entre outros.
Para os investigadores, estes dados podem significar “uma menor responsabilidade individual quanto aos mecanismos de transmissão da infeção”, com “maior potencial de exposição a situações de risco e má adesão ao rastreio de rotina” por parte das mulheres.
Nas conclusões, os autores deste trabalho de investigação sublinham a necessidade de melhorar o conhecimento sobre o cancro do colo do útero para uma tomada de decisão informada.
“Conhecer os sintomas do cancro do colo do útero associa-se a um maior nível de consciencialização e pode levar as mulheres a procurar cuidados médicos mais precocemente”, sublinham. Por outro lado, saber quais são as causas da doença permite tomar decisões acertadas sobre medidas de prevenção e rastreio.
Em Portugal, o rastreio está recomendado para todas as mulheres entre os 25 e os 60 anos pela realização da pesquisa do HPV na citologia cervicovaginal, que substituiu o antigo teste de Papanicolau.
Considerado “um problema de saúde pública com impacto significativo a nível global”, o cancro do colo do útero é um dos mais prevalentes e mortais nas mulheres, embora possa ser prevenido. Em 2020, este foi o quarto cancro mais comum em mulheres a nível mundial, tendo sido responsável por quase 350 mil mortes. Em Portugal, nesse mesmo ano, foi o oitavo cancro mais comum.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem como objetivo eliminar este tipo de cancro através da vacinação contra o HPV em jovens, pela generalização do rastreio e pelo acesso aos tratamentos. A promoção do conhecimento e da literacia é fundamental para capacitar as mulheres para uma participação ativa e consciente na sua própria saúde.
Esta investigação teve o financiamento da AICIB – Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica e Liga Portuguesa contra o Cancro, numa parceria entre o CINTESIS, o Laboratório Associado RISE e a USF Barão do Corvo, em Vila Nova de Gaia.