Um novo estudo assinado por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde analisou os níveis de saúde mental positiva de mais de dois milhares de estudantes de Enfermagem em Portugal e Espanha e encontrou alguns dados preocupantes que podem constituir barreiras ao exercício futuro da profissão.
Este trabalho, intitulado “Levels of Positive Mental Health in Portuguese and Spanish Nursing Students” e publicado no Journal of the American Psychiatric Nurses Association, foi desenvolvida por Carlos Sequeira, José Carlos Carvalho, Amadeu Gonçalves e Maria José Nogueira, todos eles investigadores do CINTESIS/Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), a par com Teresa Lluch-Canut e Juan Roldán-Merino, da Universidade de Barcelona.
Os autores interrogaram 2.238 estudantes de Enfermagem, com uma média de idades de 21,5 anos, sobre as seis dimensões consideradas no Questionário de Saúde Mental Positiva (PMHQ): a satisfação pessoal, a atitude pró-social, o autocontrolo, a autonomia, a resolução de problemas/auto-atualização e as competências de relacionamento interpessoal.
Embora os resultados indiquem, em geral, que os estudantes têm uma boa saúde mental positiva, algumas dimensões tiveram uma avaliação claramente abaixo do que seria de esperar, tendo em conta, sobretudo, o tipo de curso que estão a frequentar.
Assim, 27% dos estudantes admitiram não gostar de si próprios e 37% experimentam muitas vezes um sentimento de ausência de sentido. Apesar de serem, globalmente, altruístas e com uma predisposição para ajudar, 47% dos estudantes reportaram algumas dificuldades em aceitar ideias diferentes das suas e 40% revelaram ter dificuldades em ouvir os problemas dos outros. Cerca de 30% confessaram ainda dificuldades em dar apoio emocional, em entender os sentimentos alheios e em relacionarem-se com os professores.
“Algumas variáveis apresentam indicadores perturbadores, tais como a satisfação pessoal e a relação interpessoal, demonstrando uma importante falta de autoestima. Além disso, aproximadamente metade dos estudantes mostra dificuldades em estabelecer relações com os outros, mais de metade não está otimista quanto ao futuro e um número considerável sente insegurança a tomar decisões”, dizem.
Para os investigadores do CINTESIS/ESEP, estes resultados negativos “comprometem a autonomia, o crescimento pessoal, o bem-estar e o sucesso académico” dos estudantes. Pior do que isso, “a falta de relações interpessoais satisfatórias, o pessimismo e dificuldade em tomar decisões são fatores psicossociais que afetam negativamente a sua capacidade de virem a desenvolver competências clínicas”.
Do mesmo modo, a dificuldade em ouvir os outros, em aceitar ideias diferentes, em criar empatia e em entender os sentimentos alheios pode constituir-se como “uma barreira ao exercício da profissão”.
Os autores entendem que estes resultados devem ser interpretados como uma “contribuição valiosa para o ensino”, uma vez que permitem identificar as fragilidades dos alunos e apontar áreas prioritárias de intervenção nas escolas de Enfermagem, quer em Portugal, quer em Espanha.
“A principal ideia é sensibilizamos as instituições de ensino para a importância da promoção da saúde mental nos jovens, essencialmente no que se reporta à gestão das emoções, autocontrolo, labilidades de relação Interpessoal e satisfação pessoal, e por essa via, ajudar a construir jovens mais resilientes, mais saudáveis e mais satisfeitos”, conclui Carlos Sequeira.
Este grupo de investigadores tem igualmente em curso trabalhos de monitorização da saúde mental de estudantes de Enfermagem do Brasil e de estudantes de outros cursos, quer da área da saúde, quer de outras áreas. Os dados preliminares são “sobreponíveis”, o que é visto como “preocupante” e indicador de “uma nova realidade”. Os resultados finais serão conhecidos em breve.