Teresa Martins é investigadora integrada do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, no grupo de investigação NursID: Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem, no polo da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), onde é Professora Coordenadora.
Nasceu em Gondomar, há 59 anos, mas viveu a infância em diferentes cidades do país, acompanhando o pai, militar de profissão. Depois do 25 de abril, regressou “à base”, concluiu o liceu no Rainha Santa Isabel, no Porto, e enveredou pela Enfermagem. “Não foi algo que eu quisesse desde pequenina. Nunca tinha pensado nisso nem tinha sentido pressão de ninguém para ter uma profissão específica. Fiz o ano propedêutico e o primeiro ano do curso de Enfermagem ao mesmo tempo. Foi uma prima minha, que era enfermeira, que me sugeriu Enfermagem. Pensei: Porquê não? Fiz os exames de admissão e entrei na antiga Escola de Enfermagem Ana Guedes (atual ESEP). Apaixonei-me pelo curso. Se tivesse de voltar atrás, teria feito o mesmo”, afirma.
Começou a trabalhar como enfermeira poucos dias depois de concluir o curso, em 1982, tendo exercido a prática clínica no Centro Hospitalar do Porto e no Hospital de São João. Mas não foi bem como julgou que seria. “Senti algum desalento. Senti a diferente entre o que aprendemos e o que, de facto, fazíamos. Achava que a nossa formação nos permitia ir muito mais além”, recorda.
Uns anos mais tarde, um estágio de três meses no Nuffield Orthopedic Center, em Oxford, Inglaterra, viria a ter um grande impacto na sua carreira. “Decidi que tinha mesmo de fazer especialização. Eu queria Reabilitação, mas tinha um atestado médico que me comprometia porque eu tinha escoliose”.
Já que não podia ir para Reabilitação, fez Saúde Pública na antiga Escola Cidade do Porto (atual ESEP), em 1990. Em 1991, surgiu o desafio de entrar na carreira docente, na ESEP. “Foi uma possibilidade de me reconciliar comigo mesma e com a profissão, uma vez que não estava encantada com o que fazia. Entrei e aqui estou, desde então. No Ensino, senti que tinha um campo aberto, uma liberdade plena e autonomia para inovar”, continua.
Em 1996, fez o Mestrado em Saúde Pública pela Universidade de Coimbra e, em 2004, concluiu o Doutoramento em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Desde o mestrado e do doutoramento, a investigação esteve sempre presente. Integrou o CINTESIS desde o início, no grupo NursID, e o balanço é francamente positivo.
“O CINTESIS dá-nos este conforto, esta retaguarda, esta motivação para a nossa investigação. Tínhamos a ideia de que as redes eram muito burocráticas, que era preciso escrever cartas, pedir autorizações, e não, as coisas funcionam de forma muito fluida, o que, para nós, é muito bom. Ninguém gosta de trabalhar com grandes formalismos. Ligo, muitas vezes, a dizer que preciso de um investigador numa ou noutra área e a resposta surge prontamente. Há uma grande facilidade de aceder às pessoas e uma grande vontade de ajudar”,
Os cuidadores têm sido um foco central da sua atividade como investigadora, desde 2001, altura em que estudou doentes de AVC e seus cuidadores familiares. Nos últimos anos, tem estado envolvida em projetos que visam o desenvolvimento de intervenções e ferramentas dirigidas a cuidadores de pessoas em situação de dependência. É o caso do projeto Intent-Care, juntamente com Maria José Lumini (coordenadora), que resultou numa plataforma de livre acesso, com conteúdos informativos que ajudam os cuidadores a prestarem melhores cuidados, com textos e vídeos que explicam passo a passo algumas tarefas como transferir e posicionar o doente, dar banho, gerir a medicação ou alimentar com sonda, entre outras.
“Temos estado gradualmente a completar a plataforma. A curto prazo, vamos criar um módulo de prevenção de quedas e alguns aspetos de autocuidado dos idosos, incluindo exercícios que visam estimular a coordenação motora, o equilíbrio e a força muscular, adianta.
Com vários livros e capítulos de livros publicados, além de artigos científicos, Teresa Martins tem outros projetos em marcha. Um deles visa criar uma manta de isolamento térmico de três camadas para doentes em contexto de bloco operatório. Para já, a equipa, coordenada por Isaura Carvalho (também do CINTESIS), obteve resultados muito positivos. A patente já está registada.
“A ideia é disruptiva. A manta é mais ecológica e sustentável, é mais ergonómica para os doentes e permite uma solução em situações de catástrofe ou cortes de energia. Agora precisamos de uma empresa que possa estar interessada em comercializar. Este é um processo que temos obrigação de não deixar morrer porque vale a pena”, diz.
Entretanto, a investigadora está já a coordenar um projeto que visa criar uma série de cenários clínicos simulados para o ensino e a aprendizagem no contexto das aulas de prática laboratorial de Enfermagem, de modo estimular os estudantes a mobilizarem os seus conhecimentos e competências e a tomarem decisões num ambiente o mais próximo possível da realidade. É mais um projeto com o cunho CINTESIS/ESEP de que vamos ouvir falar nos próximos anos.
Ambição a 1 ano?
Gosto muito de terminar ciclos, não gosto de deixar as coisas “no ar” e fico muito frustrada quando não consigo terminar aquilo a que me proponho. Um dos meus objetivos é consolidar o projeto dos cenários simulados porque o “feedback” que temos dos estudantes é extraordinário.
Ambição a 10 anos?
Isso irá coicindir com a minha reforma [risos]. Com toda a margem de erro que um período temporal tão extenso acarreta, há duas grandes áreas de investigação que quero seguir: a simulação e o refinamento dos objetivos e das metodologias no Ensino da Enfermagem.
Que vida para além da investigação?
Eu tenho uma vida muito normal, muito pacata. Não tenho muito tempo livre. No pouco tempo livre que tenho, leio, vejo séries, faço caminhadas. Não consigo estar parada. E procuro autocuidar-me. Costumo dizer aos meus alunos que vão chegar aos 90 anos e que, por isso, é importante terem hábitos de vida saudáveis. Eu aplico isso. Tento fazer uma vida regrada, passar esta mensagem e convencer os meus alunos. Devemos dar o exemplo.