Nascido no Porto, há 35 anos, Tiago Taveira Gomes é investigador integrado do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, no grupo AI4Health – Inteligência Artificial na Saúde, na LT3 – Ciência de Dados, de Decisão & Tecnologias de Informação, além de professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e da Universidade Fernando Pessoa. Vê-se sobretudo como “uma pessoa de processos e de eficiência”. É apontado como pioneiro no desenvolvimento de software em Saúde, com recurso à inteligência artificial.

A vida levou-o para a Medicina, seguindo o exemplo dos pais. Entrou na FMUP em 2006, com a ideia de seguir Cirurgia Plástica, mas o seu destino não era o bloco operatório. No quinto ano da faculdade, inclinou-se para a Psiquiatria. Foi no primeiro ano do internato comum que se decidiu pela Medicina Geral e Familiar, na qual, além da componente da clínica e da saúde mental, poderia explorar a componente “mais técnica” da medição da qualidade e dos indicadores de saúde.

Assumindo o software como “uma paixão paralela”, conta um episódio que acabou por ser decisivo no seu rumo. Estava no terceiro ano do curso quando foi desafiado a fazer um site para o Yes Meeting. “Estava a estudar Anatomia Patológica e a aprender a programar porque me tinha comprometido. Quando percebi o potencial da engenharia de software, a minha vida mudou completamente”, explica.

Confessa que foi muitas vezes desafiado a deixar a Medicina e a dedicar-se apenas ao software, mas a família insistiu que acabasse o curso, o que aconteceu em 2012. “Isso foi muito relevante. Conheço os problemas em primeira mão”, reconhece.

Trabalhou na ALERT Life Sciences Computing, empresa dedicada ao desenvolvimento de software clínico. Em 2015, ajudou a fundar a MTG Research & Development Lab, uma empresa de consultoria científica, ao mesmo tempo que fazia o Internato na USF do Covelo/ACES Porto Oriental. Saiu do Serviço Nacional de Saúde para se dedicar à FMUP e aos projetos na empresa que fundou.

Em 2016, doutorou-se pela FMUP. O seu currículo inclui também a realização de projetos para o Ministério da Saúde e colaborações com a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e com a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).

Em 2018/2019, integrou o CINTESIS por convite, após concluir o mestrado em Engenharia de Informação na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em que teve como arguente Pedro Pereira Rodrigues, coordenador do grupo a que pertence.

“Sempre vi na saúde uma oportunidade gigante para a melhoria de processos. Investigar foi a forma de conseguir produzir soluções, Não sou um investigador de gema, mas um médico que usa a investigação como um instrumento para um fim”, afirma.

Atualmente, as suas linhas de investigação estão focadas na criação de ferramentas robustas e na geração de evidência no mundo real, com o objetivo de utilizar os registos clínicos eletrónicos produzidos nas instituições de saúde para finalidades estatísticas, trilhando “um caminho de inovação tecnológica alinhado com a visão do Espaço Europeu de Dados de Saúde”, de modo a processar a informação onde ela existe.

O estudo europeu na área da insuficiência cardíaca que publicou em 2023, no British Medical Journal, em colaboração com vários países, é “um bom exemplo de como se pode utilizar esta nova abordagem para caracterizar populações, em vez de usar amostras, com segurança, de modo a melhorar a qualidade dos cuidados de saúde, sobretudo em áreas prioritárias, onde ainda há muito trabalho a fazer”.

Para o futuro, defende um maior intercâmbio entre os vários agentes. “Há áreas híbridas que propiciam a colaboração entre a academia, a indústria, as empresas privadas, as instituições do SNS, os reguladores e os diferentes players. Estamos a tentar trazer também os parceiros do setor social, como as IPSS, que poderiam beneficiar diretamente de muitas iniciativas que visam melhorar o acompanhamento de pessoas mais vulneráveis”, indica.

Ambição a 1 ano?

Tenho vários projetos em andamento, nomeadamente sobre idas à urgência potencialmente evitáveis, violência doméstica, insuficiência cardíaca, obesidade, diabetes, doenças respiratórias e doenças oncológicas, em parceria com a FMUP e com instituições do SNS de todo o país. Espero ter os primeiros estudos federados multicêntricos com instituições portuguesas em 2024. Outro objetivo é estabelecer pontes para estudos federados, sobretudo com países nórdicos.

Ambição a 10 anos?

A médio prazo, o meu objetivo é que este trabalho que tenho vindo a fazer sirva de base para que, tanto no Ensino Superior como nas instituições de saúde, se instale uma cultura e uma competência capazes de desenvolver este tipo de atividades de forma autónoma e que estas sejam centrais na gestão e na análise da prestação de cuidados e da inovação. Gostaria de ver centenas de colegas profissionais de saúde e das áreas técnicas a realizar projetos com base no exemplo que estamos a dar. Espero que seja algo que nos transcenda largamente.

Que vida para além da investigação?

Gosto de estar com a família (mulher, dois filhos, irmãos e avós).